Morte do presidente do Irã gera reações internacionais
Uma autoridade israelense disse à Reuters que não esteve envolvida no acidente: “Não fomos nós”.
O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, morreu em um acidente de helicóptero nas montanhas perto da fronteira com o Azerbaijão, informaram autoridades e a mídia estatal nesta segunda-feira (20). O acidente, que ocorreu no domingo em meio a condições climáticas adversas, também resultou na morte do ministro das Relações Exteriores, Hossein Amirabdollahian, e de outros seis passageiros e tripulantes.
O helicóptero, um Bell 212 de fabricação americana, caiu durante uma tempestade de neve na região de Varzeqan, ao norte de Tabriz, enquanto Raisi retornava de uma visita oficial à fronteira com o Azerbaijão. A busca pelos destroços continuou durante a noite, e a aeronave queimada foi localizada na manhã de segunda-feira. Imagens da televisão estatal mostraram os restos do helicóptero espalhados em uma encosta enevoada, com trabalhadores do Crescente Vermelho carregando corpos em macas.
Além de Raisi e Amirabdollahian, entre os mortos estavam o governador da província do Azerbaijão Oriental e um importante imã da cidade de Tabriz. As autoridades confirmaram que todos os ocupantes do helicóptero faleceram.
O Líder Supremo do Irã, Ayatollah Ali Khamenei, anunciou cinco dias de luto nacional e nomeou o primeiro vice-presidente Mohammad Mokhber como presidente interino. Khamenei, que detém a autoridade final sobre a política externa e o programa nuclear do Irã, expressou suas condolências ao povo iraniano em um comunicado oficial. Mokhber é conhecido por sua proximidade com Khamenei, o que sugere uma continuidade na política do país.
De acordo com a constituição iraniana, uma nova eleição presidencial deve ser realizada dentro de 50 dias. No entanto, os candidatos precisarão ser aprovados pelo Conselho Guardião, um órgão conservador que frequentemente desqualifica candidatos moderados e proeminentes, mantendo a linha dura na política iraniana.
Impacto internacional
A notícia da morte de Raisi provocou uma série de reações internacionais. O presidente russo, Vladimir Putin, descreveu Raisi como “um verdadeiro amigo da Rússia” e expressou seu pesar em uma ligação telefônica com Mokhber. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, afirmou estar “profundamente chocado e triste“. A China também enviou condolências, com o presidente Xi Jinping lamentando a perda de Raisi, a quem chamou de “bom amigo do povo chinês”.
Uma autoridade israelense disse à Reuters que não esteve envolvida no acidente. “Não fomos nós”, disse o responsável, que pediu anonimato.
Outros líderes do Oriente Médio, incluindo os chefes de Estado da Arábia Saudita, Síria, Egito, Emirados Árabes Unidos, Catar, Jordânia, Iraque e Paquistão, também enviaram mensagens de condolências. Grupos militantes apoiados pelo Irã, como o Hezbollah no Líbano e os rebeldes Houthi no Iêmen, elogiaram Raisi e lamentaram sua morte. O grupo Hamas, em guerra com Israel em Gaza, também expressou simpatia ao povo iraniano.
O exilado Conselho Nacional de Resistência do Irã, oposição ao regime, descreveu a morte de Raisi como um “golpe estratégico monumental e irreparável” para a República Islâmica.
O acidente ocorre em um momento de crescente descontentamento interno no Irã devido a várias crises políticas, sociais e econômicas. O governo de Raisi estava sob pressão internacional por seu programa nuclear e por seus estreitos laços militares com a Rússia, especialmente no contexto da guerra na Ucrânia.
Raisi, de 63 anos, foi eleito presidente em 2021 e desde então reforçou as leis morais, reprimiu violentamente protestos anti-governo e adotou uma postura firme nas negociações nucleares com potências mundiais. Sua administração enfrentou protestos significativos, especialmente após a morte de Mahsa Amini, uma jovem curda que faleceu sob custódia da polícia moral, provocando indignação nacional e internacional.
Investigações e homenagens
O chefe do Estado-Maior iraniano, Mohammad Bagheri, ordenou uma investigação detalhada para determinar as causas do acidente. A Media Luna Roja iraniana confirmou que os corpos foram identificados sem necessidade de testes de DNA, embora um dos passageiros, o ayatolá Seyyed Mohammad-Ali Al-Hashem, tenha sobrevivido por uma hora após o acidente e mantido contato telefônico com a presidência antes de falecer.
O funeral de Raisi e dos demais mortos no acidente está programado para ocorrer na terça-feira em Tabriz. Em Teerã, grandes multidões se reuniram para homenagear o presidente e as outras vítimas. A ONU também prestou homenagem, com o Conselho de Segurança observando um minuto de silêncio em memória dos falecidos.