Magnata do mercado imobiliário é condenada à morte no Vietnã por corrupção
Desvios de Truong My Lan equivalem a 3% do PIB do país. Ainda é um mistério a questão de como Lan conseguiu construir seu império: na década de 1980, vendia cosméticos em uma tendinha ao lado da mãe.
A vergonha do maior escândalo financeiro do Vietnã comunista, traído pela alma capitalista do boom econômico, será “lavada” pela mais “exemplar” das sanções: a pena de morte.
Truong My Lan, a presidente do poderoso grupo imobiliário Van Thinh Phat, foi considerada culpada de ter orquestrado uma megafraude de 25 bilhões de euros (R$ 136 bi) através de uma longa série de crimes, que vão de apropriação indébita a corrupção, passando por violação de regras bancárias, ao fim de um “processo-show” na Cidade de Ho Chi Minh, que catalisou a atenção do país inteiro.
Um castelo de acontecimentos, reconstruídos através de documentos que ocupam 104 caixas pesando ao todo quatro toneladas, e 2.770 pessoas convocadas como testemunhas, que “erodiram a confiança das pessoas na liderança do Partido Comunista e do Estado”, como expôs nesta quinta-feira (11) a sentença, para a qual os advogados da equipe e defesa terão 15 dias para apelar e tentar comutar a pena em prisão perpétua.
Lan, de 67 anos, entre as mulheres mais ricas do país, controlou ilegalmente o Saigon Joint Stock Commercial Bank entre 2012 e 2022 para desviar os bilhões em fundos através de milhares de empresas fantasma, pagando subornos pesados a funcionários públicos corruptos.
O valor da apropriação foi estimado em 3% do PIB inteiro do Vietnã em 2022, e o Ministério Público, ao reconstruir o labiríntico império econômico erguido, relatou ter conseguido apreender mil propriedades da mulher.
Lan havia negado as acusações, culpando seus colaboradores. Por fim, jogando a carta da emoção, relatou na semana passada estar sofrendo com “pensamentos suicidas” em suas alegações finais.
“No meu desespero, pensei na morte”, disse, segundo o relato da mídia estatal.
“Estou muito brava por ter sido tão burra a ponto de me deixar envolver nesse ambiente econômico muito feroz, o setor bancário, que conheço pouco”, acrescentou.
A corte justificou a pena capital pela gravidade do caso, acusando Lan de ser a cabeça de um esquema de associação criminosa capaz de usar métodos tão sofisticados que tornaram a recuperação do dinheiro impossível, segundo o portal VnExpress.
A prisão de Lan foi realizada em outubro de 2022, parte de uma iniciativa anticorrupção iniciada em 2015 e que acelerou em 2022.
A chamada campanha “blazing furnace” (fornalha ardente, em português) atingiu as máximas esferas da política vietnamita, com dois presidentes e dois primeiros-ministros obrigados a pedir demissão nos últimos anos, e centenas de oficiais do Partido Comunista atingidos por sanções disciplinares ou indo parar na prisão.
O marido de Lan, o investidor de Hong Kong Eric Chu Nap-Kee, estava entre os 86 processados por ter apresentado falsos pedidos de empréstimo e saque ao banco de Saigon do qual Lan possuía uma cota de 90%.
O jornal Thanh Nien relatou que 84 acusados envolvidos foram condenados a penas variando entre liberdade supervisionada por três anos até a prisão perpétua.
Ainda é um mistério a questão de como Lan conseguiu construir seu império: na década de 1980, vendia cosméticos em uma tendinha ao lado da mãe.
Com informações de Antonio Fatiguso, agência ANSA*