Bilionário defende jornada de trabalho de 70 horas semanais
Em um momento em que o conceito de equilíbrio entre vida pessoal e profissional ganha força globalmente, as recentes declarações de Narayana Murthy, cofundador da Infosys, sobre uma jornada de trabalho de 70 horas semanais destacam-se por seu contraste.
Esta sugestão de Murthy reflete sua própria experiência profissional. Durante mais de 40 anos, ele manteve uma rotina intensa de trabalho, chegando a dedicar entre 85 a 90 horas semanais nos primeiros anos da Infosys. Murthy acredita que o trabalho árduo é essencial para o progresso pessoal e nacional, uma lição que aprendeu desde cedo com seus pais.
A visão de Murthy contrasta com as tendências globais atuais, onde a busca por um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal está se tornando cada vez mais prevalente. No Brasil, está sendo testada a semana de trabalho de quatro dias, com foco na produtividade e no bem-estar dos funcionários, enquanto Bill Gates prevê uma semana de trabalho de três dias, sugerindo que a inteligência artificial permitirá que as máquinas assumam tarefas rotineiras, permitindo que os humanos se concentrem em atividades mais criativas e estratégicas.
Trajetória e perspectiva de Murthy sobre jornada de trabalho
Narayana Murthy não é apenas um empresário de sucesso, mas um ícone no mundo da tecnologia. Sua jornada desde programador-chefe de sistemas no Indian Institute of Management, Ahmedabad, até a fundação da Infosys em 1981, é um exemplo de determinação e visão empreendedora. Reconhecido como um dos maiores empreendedores da atualidade pela Forbes, Murthy transformou a Infosys em um gigante global da tecnologia.
Murthy é um proponente do trabalho duro como chave para o sucesso. Em suas próprias palavras, ele descreveu seu horário de trabalho extenso: “Costumava chegar ao escritório às 6:20 da manhã e sair às 8:30 da noite, trabalhando seis dias por semana“. Esta ética de trabalho está profundamente enraizada em sua educação e crenças pessoais. Desde cedo, seus pais lhe ensinaram que o trabalho árduo era a única maneira de escapar da pobreza e alcançar a prosperidade.
As declarações de Narayana Murthy geraram um amplo debate tanto na Índia quanto internacionalmente. Enquanto alguns veteranos da indústria e cidadãos mais velhos apoiaram suas palavras, muitos jovens e executivos discordaram, argumentando que o conselho estava desatualizado e não alinhado com as tendências contemporâneas de produtividade e bem-estar no trabalho.
Nas redes sociais, as opiniões foram divididas, com muitos apontando para a desigualdade econômica e o alto desemprego juvenil na Índia como contrapontos à sugestão de Murthy. Alguns questionaram a viabilidade e a justiça de tal jornada de trabalho, considerando os desafios sociais e econômicos atuais.
Contexto global
Em um contexto global, a discussão vai além das horas trabalhadas; ela abrange como a tecnologia, especialmente a inteligência artificial, está remodelando o conceito de trabalho. Com a IA assumindo tarefas rotineiras e repetitivas, os trabalhadores podem focar em atividades que exigem criatividade e julgamento humano, potencialmente reduzindo a necessidade de longas horas de trabalho.
A Índia, apesar de ser uma das economias que mais crescem entre as grandes, ainda enfrenta desafios significativos. Com um PIB de cerca de US$ 3,5 trilhões, a Índia está tentando atrair empresas globais para estabelecer bases de manufatura no país, ao mesmo tempo em que experimenta um boom nos negócios digitais. Narayana Murthy aponta a baixa produtividade do trabalho na Índia em comparação com outros países como um obstáculo para a competitividade global e sugere que o aumento da jornada de trabalho é uma solução.
Além da economia, a cultura de trabalho na Índia também está em foco. A sugestão de Murthy de longas horas de trabalho reflete uma abordagem tradicional, enquanto as tendências globais estão mudando para valorizar mais o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Isso levanta questões sobre como a Índia, em seu esforço para competir globalmente, pode também incorporar essas novas abordagens para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores sem comprometer a produtividade.