Condições “apocalípticas” em Gaza complicam entrega de auxílio humanitário
A Faixa de Gaza enfrenta condições descritas como “apocalípticas” devido à intensificação dos conflitos na região, afetando gravemente a distribuição de ajuda humanitária. Organizações de auxílio e agências da ONU alertam para a necessidade urgente de um cessar-fogo.
Nos últimos dois meses, a Faixa de Gaza tem sido palco de uma escalada de violência, desencadeada por ataques terroristas do Hamas em Israel, seguidos de uma retaliação militar israelense intensa. Esta situação gerou uma crise humanitária sem precedentes na região. As ações militares incluíram bombardeios intensos e lançamentos de mísseis, que resultaram em graves danos a infraestruturas civis e perda de vidas. Relatórios indicam que mais de 100 pessoas foram mortas em um único dia, após o bombardeio de prédios residenciais no campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza.
A gravidade da situação é resumida pelo porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância, James Elder: “Sem água. Sem saneamento. Sem comida. Apenas bombas”. A violência contínua não apenas inflige sofrimento imediato à população, mas também complica enormemente a entrega de auxílio humanitário essencial. Organizações de ajuda e agências da ONU pedem um cessar-fogo imediato, destacando que as condições atuais em Gaza estão entre as piores já testemunhadas.
Colapso do sistema de saúde de Gaza e os desafios na distribuição de ajuda
A situação atual em Gaza não afeta apenas a segurança e o bem-estar da população, mas também tem consequências devastadoras para o sistema de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) documentou 212 ataques que afetaram diretamente a saúde na região, incluindo ataques a 56 instalações de saúde e 59 ambulâncias. Este cenário resultou em apenas 14 dos 36 hospitais de Gaza operando, pelo menos parcialmente, o que representa um colapso significativo do sistema de saúde local.
O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, expressou profunda preocupação com esta realidade, afirmando que “o sistema de saúde de Gaza está de joelhos“. Ele ressaltou a necessidade de paz para garantir a saúde, enfatizando que a continuação do conflito só servirá para agravar a crise sanitária e humanitária.
A distribuição de ajuda humanitária em Gaza enfrenta desafios sem precedentes devido à intensidade dos conflitos. Bloqueios de caminhões, cortes de telecomunicações e a incapacidade dos funcionários de acessar pontos críticos, como o cruzamento de fronteira de Rafah, limitam severamente a capacidade da ONU e de outras organizações de fornecer assistência essencial.
O Escritório de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) relata que, apesar dos esforços, a ajuda entregue está bem abaixo do necessário. Em um dia, apenas 80 caminhões de ajuda e 69 mil litros de combustível entraram em Gaza através de Rafah, em comparação com a média diária de 170 caminhões e 110 mil litros de combustível durante períodos mais estáveis.
Deslocamento populacional e resposta da ONU
A intensificação dos conflitos em Khan Younis levou ao deslocamento de dezenas de milhares de pessoas, muitas das quais buscaram refúgio em Rafah. Essa migração em massa resultou em abrigos superlotados e condições precárias para os deslocados. Em resposta, a agência da ONU para refugiados da Palestina (Unrwa) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) têm fornecido tendas e refeições quentes, em meio a uma crise de fome catastrófica que afeta toda a região.
Além disso, ordens de evacuação emitidas pelo exército israelense resultaram na saída de milhares de pessoas de áreas designadas para evacuação imediata. Em Rafah, onde os abrigos estão acima da capacidade, muitos deslocados têm se estabelecido nas ruas e em espaços vazios pela cidade, evidenciando a gravidade da situação humanitária.
O chefe de assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths, descreveu a operação humanitária no sul de Gaza como “arruinada”, destacando que a intensidade dos ataques militares tornou nenhum lugar seguro. Ele cunhou o termo “oportunismo humanitário” para descrever as atuais entregas de ajuda, caracterizando-as como “erráticas, não confiáveis e insustentáveis”.
Griffiths também mencionou negociações em andamento sobre o acesso de ajuda a Gaza pelo cruzamento de fronteira de Kerem Shalom, em Israel, como um sinal promissor. Se alcançado, esse acordo poderia representar um avanço significativo para a logística da operação humanitária. Atualmente, Rafah permanece como o único ponto de passagem aberto para as entregas de ajuda.