Milei afirma que não fará negócios com “socialistas”, incluindo a China e o Brasil
Javier Milei, o candidato presidencial de ultradireita na Argentina, recentemente detalhou sua política externa em uma entrevista à Bloomberg. Entre suas propostas mais notáveis, Milei declarou que, se eleito, congelaria as relações com a China e retiraria a Argentina do bloco comercial do Mercosul. As propostas são tão radicais quanto as políticas econômicas de Milei, e as implicações para a economia da Argentina e as relações internacionais são significativas.
Na entrevista, Milei expressou sua antipatia pelo governo chinês, alegando que “as pessoas não são livres na China, não podem fazer o que querem e, quando o fazem, são mortas“. Ele questionou se alguém deveria negociar com um assassino, uma referência ao regime do Partido Comunista da China.
Milei também afirmou que não faria negócios com “socialistas”, incluindo a China comunista e o Brasil, liderado pelo presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina, enquanto a China é o segundo maior comprador de exportações argentinas e fornece uma linha de swap crucial de 18 bilhões de dólares ao banco central argentino.
Contudo, Milei afirmou que respeitaria acordos já firmados com empresas chinesas, incluindo contratos para construção de duas represas na Patagônia argentina e um acordo para estabelecer uma planta nuclear no país. Além disso, o candidato declarou que não se envolverá se o setor privado decidir manter relações com Pequim. “Não tenho que me envolver, mas não promoverei laços com aqueles que não respeitam a liberdade“, disse.
Após as declarações de Milei, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, sugeriu que se Milei visitasse a China, teria uma percepção diferente sobre a liberdade e a segurança no país. A Embaixada chinesa em Buenos Aires, por sua vez, não comentou as declarações do candidato presidencial, afirmando que segue o princípio de não interferência nos assuntos internos de outros países.
Mercosul e América Latina
O candidato presidencial também criticou a integração do Mercosul, bloco comercial formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, considerando-o uma “união aduaneira de baixa qualidade que gera distorções comerciais e prejudica seus membros“. Milei afirmou que não tem “sócios socialistas”, fazendo referência aos presidentes de países como Brasil, Chile, Colômbia e México.
Após sua vitória surpreendente nas eleições primárias em agosto, Milei tem chamado a atenção de formuladores de políticas internacionais, e suas propostas radicais geram preocupações sobre como ele conduziria os assuntos da Argentina no cenário global. A eleição de Milei em outubro provocaria ondas de choque em uma região amplamente governada por líderes de esquerda.
Repercussões internacionais
As propostas de política externa de Milei são vistas como uma “luta global contra socialistas e estatistas“, e ele revelou que nomearia Diana Mondino, uma ex-diretora da Standard & Poor’s para a Argentina e atual candidata ao Congresso, como sua principal diplomata. Em relação aos Estados Unidos, Milei expressou disposição para trabalhar com qualquer presidente eleito em 2024, independentemente de suas inclinações políticas, embora tenha preferência por conservadores.
No entanto, as relações com a China são de especial importância para a economia argentina. O banco central de Buenos Aires tem dependido cada vez mais da linha de swap de moedas com a China para apoiar o peso argentino. No mês passado, o governo usou yuans para pagar parte do que deve ao Fundo Monetário Internacional (FMI), em meio a uma escassez crescente de dólares.
Um rompimento nas relações com a China poderia ser prejudicial para a Argentina, pois o país poderia ver seu déficit comercial existente com a China aumentar se Pequim decidisse tratar a Argentina como fez com a Austrália, parando de comprar sua carne e outros produtos alimentícios devido a relações azedas.
Impacto nas relações com países da América Latina
Milei também expressou opiniões fortes sobre outros líderes da América Latina. Ele se referiu ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, como um “ditador” e criticou os governos de países como Nicarágua, Cuba, Coreia do Norte e Rússia. Se eleito presidente, Milei afirmou que a Argentina voltaria a condenar a Venezuela por violações dos direitos humanos, retomando a política linha-dura do país que vigorou até 2019 sob o governo do presidente Mauricio Macri.
O candidato presidencial também descreveu sua relação com o antecessor de Lula no Brasil, Jair Bolsonaro, como “excelente”. Ele questionou o valor do Mercosul, a aliança comercial que a Argentina fundou com Brasil, Paraguai e Uruguai há mais de três décadas. O grupo, assolado por divisões internas, tem enfrentado dificuldades para implementar um acordo de livre-comércio com a União Europeia, acertado quatro anos atrás.