El Niño provoca ondas de calor, estiagem no Norte e ciclones no Sul do Brasil
Com temperaturas extremamente altas no final do inverno e começo da primavera no Brasil ocasionando até ciclones, a estiagem é o principal problema do Norte do país. O Amazonas, é um dos que mais sofrem com a falta de chuvas, que tem feito os rios sumirem. Um porto da Zona Oeste da capital Manaus ficou completamente seco. Com a falta de água, os barcos ficaram presos na terra. Assim, os passageiros precisam andar no trajeto por onde normalmente passam os rios e atravessar pontes para chegar até o local de onde partem as embarcações que vão para as comunidades ribeirinhas.
Já em outros pontos do Amazonas, os rios que ainda não secaram completamente estão com bancos de areia, o que dificulta o trajeto em velocidade normal e em segurança. Além da dificuldade dos rios, algumas cidades já registram problemas no abastecimento de água e falta de alimentos, provocada justamente pela dificuldade de locomoção das embarcações.
De acordo com a Defesa Civil do estado, dos 62 municípios amazonenses, 16 estão em situação de emergência pela falta de água, outros 39 estão em alerta. O governo federal anunciou que criará uma força-tarefa para levar alimentos e insumos às regiões mais afastadas. Já no Sul do país, a frequência com que ciclones extratropicais têm se formado no Rio Grande do Sul ou em áreas próximas a região deixa em alerta a população.
Com o fenômeno registrado entre a última terça-feira (26) e a quarta-feira (27), já são nove ocorrências do tipo em três meses. Nos meses de junho e agosto, o RS teve uma passagem de ciclone em cada mês. Em julho, foram contabilizados três. Em setembro, já são quatro ocorrências.
“Normalmente acarretam um episódio de chuva e depois da passagem dele a gente fica com um ar frio na retaguarda. Esse ano a gente tá vendo uma recorrência muito maior, mais frequente desses eventos e com uma intensidade também mais acentuada”, afirma Luciano Zasso, coordenador do curso de Geografia da Escola de Humanidades da PUCRS.
Veja quais foram os ciclones dos últimos meses
- 15 e 16 de junho – se formou junto ao litoral do RS e de SC.
- 8 de julho – se formou junto ao litoral do RS e de SC.
- 12 e 13 de julho – se organizou sobre o RS.
- 26 de julho – se formou, sobre o mar, no litoral do Uruguai, mas junto ao extremo sul do RS.
- 18 de agosto – se formou, sobre o mar, no litoral do Uruguai e o litoral da província de Buenos Aires.
- 4 de setembro – se formou, sobre o mar, no litoral do Uruguai e o sul do RS
- 8 de setembro – se formou sobre o mar, entre a costa do Uruguai e da província de Buenos Aires.
- 13 de setembro – se formou perto do litoral do RS e de SC.
- 26 e 27 de setembro – se formou na costa do Rio Grande do Sul.
Entenda como se formam os ciclones
Os ciclones extratropicais são formados pelo contraste de temperaturas das massas de ar quente e frio que se encontram no RS. O ar frio vem da Argentina e do Uruguai, e o ar quente e úmido é empurrado do alto do continente pelo El Niño.
“O contraste térmico entre o Sul do continente e a Região Central do Brasil, que vem enfrentando temperaturas elevadas, e a intensificação do El Niño justificam essas chuvas mais intensas e a formação de ciclones que se deslocam para alto-mar”, afirma o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Marcelo Schneider.
O El Niño se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. A Climatempo Meteorologia afirma que durante a primavera a tendência é que o fenômeno ganhe força. Com isso, mais ciclones podem se formar, ou outros sistemas de baixa pressão atmosférica, que podem provocar mais chuva sobre o RS.
“É preciso lembrar que a primavera é uma estação de eventos de chuva forte sobre o Sul, mesmo sem El Niño. Este fenômeno ainda vai ganhar força até o fim do ano. As mais recentes análises dos principais centros de monitoramento apontam um enfraquecimento apenas no outono de 2024″, afirma a meteorologista da Climatempo Josélia Pegorim.
Impactos do El Niño e La Niña no Brasil
El Niño e La Niña são padrões climáticos naturais que resultam de interações entre o oceano e a atmosfera. Ambos envolvem anomalias das temperaturas da superfície do oceano e da circulação atmosférica, resultando em extremos climáticos em todo o mundo.
Enquanto o El Niño consiste no aquecimento anormal do Oceano Pacífico Equatorial, a La Niña é o inverso, provocando o resfriamento do Pacífico Equatorial. Em anos de El Niño os ventos de superfície na região equatorial, chamados de alísios, se enfraquecem e com isso todo Oceano Pacífico Equatorial se torna mais quente, gerando evaporação e formação de nuvens de chuva. Esse fenômeno faz com que circulação atmosférica mude, alterando os padrões de chuva e temperatura em várias partes do globo.
Em episódios de La Niña os ventos de superfície em todo Pacífico Equatorial são mais fortes que o normal causando o resfriamento da maior parte dessa região do oceano. Esse fenômeno, assim como o El Níño, perturba os padrões de circulação atmosférica, modificando a temperatura e a precipitação em várias regiões do mundo. Assim, os movimentos atmosféricos faz com que o Pacífico Ocidental, Indonésia e Austrália passam a ter grande quantidade de chuva, já na região centro-leste do Oceano Pacífico os movimentos descendentes do ar inibem a formação de nuvens.
Influência do El Niño
Os impactos do El Niño no Brasil são bastante diversificados, afinal nosso país possui dimensões continentais. Em algumas áreas produz secas extremas, em outras eleva as temperaturas ou pode provocar chuvas intensas em determinadas regiões.
- Região Norte: Redução das chuvas no leste e norte da Amazônia, aumentando a probabilidade de incêndios florestais.
- Nordeste: Secas de diversas intensidades nas áreas centrais e norte da região, as porções sul e oeste não são significativamente afetados.
- Região Centro-Oeste: Não há efeitos pronunciados nas chuvas e na temperatura nessa região. Mas há tendências de chuvas acima da média e temperaturas elevadas no sul do Mato Grosso do Sul.
- Sudeste: Não há padrão característico de mudança das chuvas, mas com aumento moderado das temperaturas médias.
- Região Sul: Chuvas abundantes acima da média histórica e aumento da temperatura média.
Influência da La Niña
- Região Norte: Aumentos na intensidade da estação chuvosa na Amazônia, ocasionando cheias expressivas de alguns rios da região.
- Região Nordeste: Chuvas acima da média na região, justificando enchentes no litoral nordestino.
- Região Centro-Oeste: Não há efeitos pronunciados nas chuvas e na temperatura nessa região,mas há tendências de estiagem.
- Região Sudeste: Não há padrão característico de mudança das chuvas e nem na temperatura.
- Região Sul: Estiagem em toda região, principalmente no inverno