Pisa 2022: menos de 50% dos alunos brasileiros sabem o básico de matemática e ciências
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou nesta terça-feira (5) os resultados mais recentes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022. O relatório revela que o Brasil se manteve estável nas pontuações em matemática, leitura e ciências, comparado aos anos anteriores.
No entanto, destaca-se uma preocupação significativa: menos de 50% dos alunos brasileiros conseguiram atingir o nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências.
Embora as pontuações tenham se mantido estáveis em relação a 2018, com 379 pontos em matemática, 410 em leitura e 403 em ciências, a porcentagem de alunos que alcançaram o nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências é inferior a 50%.
A posição do Brasil continua abaixo da média dos países da OCDE nas três disciplinas. Esse atraso educacional é particularmente notório em ciências, onde o Brasil está com um déficit de pelo menos quatro anos escolares em comparação aos membros da OCDE. No ranking geral, o país ocupa o 64º lugar em matemática, 53º em leitura e 61º em ciências, ficando atrás de outras nações latino-americanas como Chile, Uruguai, México e Costa Rica.
Em termos de proficiência, somente 27% dos estudantes brasileiros alcançaram o nível 2 em matemática, o mínimo esperado, enquanto a média da OCDE é de 69%. Em leitura e ciências, metade e cerca de 45% dos alunos, respectivamente, chegaram a esse nível, mas ainda abaixo das médias da OCDE de 74% e 76%.
Impacto da pandemia e tendências globais
O relatório do Pisa 2022 oferece uma perspectiva intrigante sobre o impacto da pandemia de COVID-19 na educação global. Enquanto a crise sanitária trouxe desafios inéditos, com fechamento de escolas e a implementação de aulas online, o relatório enfatiza que a pandemia não pode ser considerada a única culpada pelo desempenho educacional inferior nos países. Foi observado que não houve uma “diferença clara” nas notas de 2022 em relação ao tempo de fechamento das escolas durante a pandemia. Esta observação indica que as dificuldades enfrentadas pelos sistemas educacionais precedem a crise sanitária global.
O relatório também destaca uma tendência preocupante entre os países membros da OCDE: uma queda sem precedentes no desempenho educacional durante este ciclo de avaliação. Apesar da pandemia ter contribuído para essa queda, ela não foi a única influência. As notas em leitura, por exemplo, caíram em muitos países, com alguns registrando as menores pontuações em mais de uma década. Este fenômeno sugere que os problemas nos sistemas educativos de longo prazo também desempenham um papel significativo no declínio do desempenho.
Aplicado a cada três anos, o Pisa avalia os conhecimentos dos estudantes de 15 anos de idade nas três disciplinas. No total, 690 mil estudantes de 81 países fizeram os testes. No Brasil, 10.798 alunos de 599 escolas passaram pela avaliação. Na edição de 2022, o foco foi em matemática.
Com os resultados de 2022, o Brasil continua no grupo abaixo da média dos países da OCDE nas três disciplinas: 472 pontos em matemática, 476 em leitura e 485 em ciências.
Cada 20 pontos equivalem a um ano escolar. Em ciências, por exemplo, o Brasil está com pelo menos quatro anos de atraso em relação aos membros da OCDE.
No ranking, ficou no 64º lugar entre as notas em matemática, 53º em leitura e 61º em ciências, atrás de outros latino-americanos, como o Chile, Uruguai, México e a Costa Rica.
Matemática
De acordo com o levantamento, 27% dos alunos brasileiros alcançaram o nível 2 de proficiência em matemática, considerado o patamar mínimo de aprendizado, enquanto que a média dos países da OCDE na disciplina é 69%.
Apenas 1% dos estudantes no país conseguiram os níveis 5 ou 6, considerados os mais altos, quando os alunos resolvem problemas complexos, comparam e avaliam estratégias. A média da OCDE é 9%.
Dos 81 países e economias participantes do Pisa 2022, somente em 16 mais de 10% dos alunos atingiram o nível 5 ou 6.
Leitura e Ciências
Quanto à leitura, metade dos estudantes no Brasil obtiveram o nível 2 ou mais. Apesar de melhor desempenho, o percentual ainda fica abaixo da média da OCDE, 74%. Nos patamares 5 e 6, o percentual foi de apenas 2%.
Em ciências, cerca de 45% dos alunos chegaram ao nível 2, contra 76% da média da OCDE. Os estudantes com melhor desempenho somaram apenas 1%.
Cenário global e pandemia
Em comparação ao Pisa de 2018, o desempenho médio nos países da OCDE caiu dez pontos em leitura e quase 15 pontos em matemática. Em ciências, a média ficou estável.
Conforme o relatório, estima-se que aproximadamente 25% dos jovens de 15 anos nos países membros da OCDE, ou seja 16 milhões, não atingiram o nível 2, ou seja, têm dificuldade em fazer cálculos com algoritmos básicos ou interpretar textos simples.
Em nações como a Alemanha, Islândia, os Países Baixos, a Noruega e Polônia, as notas em matemática caíram 25 pontos ou mais entre 2018 e 2022.
“Embora seja evidente que alguns países e economias têm desempenho muito bom na educação, o quadro geral é mais preocupante. Em mais de duas décadas de testes globais do Pisa, a pontuação média não mudou drasticamente entre avaliações consecutivas. Mas este ciclo viu uma queda sem precedentes no desempenho”, diz o relatório.
De acordo com o levantamento, a pandemia de covid-19 causou impacto na educação dos jovens nesse período – com fechamento de escolas e adoção de aulas online – porém não pode ser apontada como única causa para o desempenho inferior nos países.
O relatório diz não ter identificado “diferença clara” nas notas de 2022 em razão do fechamento de escolas por mais ou menos de três meses na pandemia.
“A pandemia da covid-19 parece um fator óbvio que pode ter impactado os resultados nesse período. Na leitura, por exemplo, muitos países como a Finlândia, Islândia, os Países Baixos, a República Eslovaca e Suécia registraram estudantes com notas mais baixas durante algum tempo – em alguns casos durante uma década ou mais. As trajetórias educacionais foram bem negativas antes da pandemia chegar. Isso indica que as questões de longo prazo nos sistemas educativos também são culpadas pela queda no desempenho. Não se trata apenas de covid”.
Singapura liderou em matemática (575 pontos), em leitura (543 pontos) e em ciências (561 pontos), o que equivale que os estudantes têm de três a cinco anos de escolaridade a mais em comparação aos demais alunos dos países com a média da OCDE.
Em apenas quatro locais, houve melhora nas três disciplinas entre as avaliações de 2018 e 2022: Brunei Darussalam, Camboja, República Dominicana e Taipé chinês.
Os resultados do Pisa 2022 evidenciam os significativos desafios que o Brasil e muitos outros países enfrentam no campo da educação. A estagnação do Brasil nas áreas de matemática, leitura e ciências, em comparação com o progresso de nações como Singapura, ressalta a necessidade de reformas e inovações educacionais. Este momento crítico na educação global, exacerbado mas não causado exclusivamente pela pandemia, chama atenção para a urgência de abordagens mais eficazes no ensino e aprendizagem, visando preparar melhor os estudantes para os desafios do século XXI.