Casas Bahia vai retornar às origens para superar dívida bilionária
Com a pressão da crise financeira, a gigante varejista Casas Bahia, famosa por sua tradição no comércio de móveis e eletrodomésticos, decidiu realinhar seu foco de atuação.
A decisão envolve se concentrar nas vendas de móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, abandonando categorias como perfumaria, alimentos, bebidas, pets, entre outros. Esses produtos, contudo, permanecerão no site por meio da venda de terceiros, conhecidos como “sellers”.
“Nossa tentativa anterior de abraçar múltiplas categorias estava nos custando caro. Entretanto, o nosso cliente de móveis e eletro é muito leal“, explicou Renato Franklin, presidente do grupo Casas Bahia. Com a nova abordagem, espera-se economizar até R$ 1 bilhão apenas em estoques este ano.
Fundada em 1952 por Samuel Klein, imigrante polonês, em São Caetano do Sul, ABC paulista, a Casas Bahia tem suas raízes fincadas no negócio de móveis e eletro.
O contexto da crise: impactos do mercado
Para Alberto Serrentino, consultor em varejo e sócio da Varese Retail, a decisão da Casas Bahia vem em meio a um cenário adverso para o varejo. O aumento da taxa de juros, que começou em 2021, afetou consideravelmente o setor de bens duráveis, levando a uma redução na demanda do consumidor e onerando empresas que precisam de financiamento para manter produtos caros em estoque.
Serrentino também destaca que a Casas Bahia foi mais afetada pela crise em comparação com seu principal concorrente, o Magazine Luiza. O “Magalu” mostrou-se mais resiliente graças à sua robusta estrutura de capital e uma melhor proporção de vendas próprias em relação ao marketplace.
Desafios e perspectivas futuras
Os números são reveladores. A Casas Bahia, segundo dados do último trimestre, apresenta uma dívida bruta de R$ 3,7 bilhões, e ainda tem R$ 8,7 bilhões em empréstimos e financiamentos. O presidente do grupo, Renato Franklin, afirma que a empresa possui R$ 2,5 bilhões em caixa, e busca o crescimento sustentável como meta até 2025.
Nesse período, a empresa passará por um período de “queima de caixa“, jargão do mercado que significa gastar recursos para manter a operação. Para ajudar nesse objetivo, a Casas Bahia irá se desfazer de alguns ativos, como imóveis, além de otimizar despesas, como o marketing. A estratégia inclui a adoção de ferramentas de inteligência artificial para personalizar campanhas publicitárias, o que pode garantir uma economia anual de R$ 200 milhões.
Rebranding e esforços de recuperação
Recentemente, a empresa anunciou mudanças significativas. Além da volta do seu icônico slogan “Dedicação total a você“, reintroduziu Fabiano Augusto, o emblemático garoto propaganda da marca. A companhia ainda alterou seu código de ação na Bolsa de Valores para BHIA3.
Porém, a mais recente oferta de ações da empresa arrecadou R$ 623 milhões, valor abaixo da expectativa inicial. Franklin acredita que o mercado tem uma percepção de risco distorcida sobre a Casas Bahia, mas ressalta: “Vamos entregar resultados e recuperar a confiança no grupo“.
No mês de agosto, a Casas Bahia já havia anunciado o plano de fechar até 100 lojas e demitir cerca de 6 mil funcionários.