Pandemia de apostas: beneficiários do Bolsa Família gastam bilhões em bets
Relatório do Banco Central revela que mais de 5 milhões de beneficiários do Programa utilizaram parte dos recursos do programa social para apostas online, gerando preocupação entre autoridades e especialistas.
Uma análise técnica do Banco Central revelou que, em agosto, os beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas por meio do Pix. O levantamento, solicitado pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), revela que cerca de 5 milhões de beneficiários, de um total de 20 milhões, realizaram apostas em casas de apostas online e cassinos virtuais. Cada apostador gastou, em média, R$ 100, e 70% deles são chefes de família, que enviaram R$ 2 bilhões desse total às plataformas de apostas.
O senador Omar Aziz expressou preocupação com o desvio desses recursos sociais para apostas e pretende buscar ação da Procuradoria-Geral da República (PGR). Aziz sugere que as plataformas sejam retiradas do ar até que o governo federal conclua a regulamentação. “Estamos falando de um benefício essencial, destinado a famílias em situação de vulnerabilidade. O uso desses recursos para apostas não apenas compromete a renda dessas pessoas, mas também levanta questões sobre a saúde financeira e social dessas famílias,” disse Omar Aziz.
Preocupações do Banco Central
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante um evento em São Paulo, demonstrou grande preocupação com o aumento das transações via Pix para apostas, que triplicaram desde janeiro de 2023. “A correlação entre pessoas que recebem Bolsa Família, pessoas de baixa renda, e o aumento das apostas tem sido bastante grande. A gente consegue mapear o que teve de Pix para essas plataformas e o crescimento de janeiro pra cá foi bastante grande. A gente pega o ticket médio e subiu mais de 200%. É uma coisa que chama atenção e a gente começa a ter a percepção de que vai ter um efeito na inadimplência na ponta,” comentou Campos Neto.
Ele ressaltou que essa alta nas apostas entre beneficiários pode levar ao comprometimento da renda e afetar a inadimplência, especialmente nas camadas mais vulneráveis da população.
Crescimento das apostas online
Os dados do Banco Central mostram que o volume total de apostas eletrônicas no Brasil, via Pix, variou entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões por mês. Em agosto, esse número chegou a R$ 20,8 bilhões, mais de dez vezes o valor arrecadado pelas loterias da Caixa Econômica Federal, que foi de R$ 1,9 bilhão no mesmo período.
Embora o relatório tenha focado nas transferências feitas via Pix, é importante destacar que o montante gasto em apostas pode ser ainda maior, já que outros meios de pagamento, como cartões de crédito, débito e TED, não foram incluídos na análise. Além disso, o levantamento se concentrou nas transferências enviadas para as plataformas de apostas, sem contabilizar eventuais prêmios recebidos pelos jogadores.
Medidas do governo contra as apostas
O Ministério da Fazenda, buscando conter o avanço das apostas online, anunciou a suspensão das operações de bets que não tenham solicitado autorização para operar no Brasil até 30 de setembro. O ministro Fernando Haddad destacou que o país está enfrentando uma “pandemia de apostas on-line”. “[A regulamentação] tem a ver com a pandemia [de apostas eletrônicas] que está instalada no país e que nós temos que começar a enfrentar, que é essa questão da dependência psicológica dos jogos,” afirmou Haddad.
“O objetivo da regulamentação é criar condições para que nós possamos dar amparo. Isso tem que ser tratado como entretenimento, e toda e qualquer forma de dependência tem que ser combatida pelo Estado.”
Em agosto, o Bolsa Família distribuiu R$ 14,12 bilhões a 20,76 milhões de beneficiários, com um valor médio de R$ 681,09 por pessoa. O uso desse benefício essencial em apostas tem gerado grande preocupação, pois os valores destinados ao programa têm como objetivo sustentar as famílias em situação de vulnerabilidade, e a aplicação desses recursos em jogos de azar pode agravar ainda mais as dificuldades enfrentadas por essas famílias.