Brasileiros sacrificam parte da alimentação para pagar Conta de Luz
Seis em cada dez famílias das classes D e E, com renda de até um salário mínimo (R$ 1.412), têm contas de luz em atraso.
Uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto Pólis, em parceria com o Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), revela um cenário preocupante sobre o impacto das contas de luz nas famílias brasileiras. O estudo, abrangendo todas as regiões do país, destaca que 49% da população considera a energia elétrica o item de maior impacto no orçamento, ao lado da alimentação.
Para muitos brasileiros, o custo da energia elétrica é tão elevado que requer sacrifícios drásticos. A pesquisa indica que 25% das pessoas das classes D e E precisam reduzir ou deixar de comprar alimentos básicos, como arroz e feijão, para pagar a conta de luz.
“As tarifas de energia elétrica no Norte e no Nordeste do Brasil tendem a ser mais caras devido a uma série de fatores específicos da região. Em primeiro lugar, essas áreas têm uma menor densidade populacional e, portanto, uma demanda menor por energia, o que pode resultar em custos de distribuição e transmissão mais elevados“, destaca o Instituto Pólis.
A análise regional mostra que a situação é ainda mais crítica no Norte do país, onde dois terços dos entrevistados apontam a conta de luz como o principal peso no orçamento doméstico. “A infraestrutura de transmissão de energia elétrica nessas regiões, muitas vezes, enfrenta desafios logísticos e geográficos significativos, como a vastidão territorial e as condições climáticas adversas, o que pode aumentar os custos de manutenção e operação“, complementa o estudo.
Impacto na população de baixa renda
A inadimplência energética afeta desproporcionalmente as famílias mais pobres. Seis em cada dez famílias das classes D e E, com renda de até um salário mínimo (R$ 1.412), têm contas de luz em atraso. Muitos brasileiros, diante dessa crise, são forçados a cortar gastos essenciais para pagar a conta de luz. A pesquisa aponta que 35% dos entrevistados reduziram ou deixaram de comprar alimentos básicos e bens de consumo para quitar seus débitos energéticos.
“A ampla maioria da população defende que a falta de capacidade de pagamento da conta de luz não deve sujeitar as famílias inadimplentes a cortes de fornecimento, visto que o acesso à energia elétrica deveria ser assegurado como direito inviolável. Na opinião de 84% dos brasileiros, segundo os dados coletados pelo Ipec, a energia elétrica deveria ser um direito fundamental garantido pelo Estado“, revela o Instituto Pólis.
Disparidades raciais e sociais
A pesquisa também revela disparidades significativas relacionadas à renda, raça e cor. Famílias com renda de até um salário mínimo (R$ 1.412) e pessoas negras são os mais afetados pela crise energética, evidenciando que a iniquidade energética é mais uma faceta das desigualdades sociais no Brasil.
Demandas por ação estatal
A população acredita que medidas para garantir o acesso à energia elétrica como um direito fundamental, imune a cortes por falta de pagamento, devem ser adotadas. Sete em cada dez brasileiros defendem que as famílias de baixa renda deveriam ter prioridade em programas de acesso à energia elétrica.
Apesar da existência da Tarifa Social de Energia Elétrica, um programa do governo federal que concede descontos na conta de luz para famílias de baixa renda, muitos consideram que essa medida não é suficiente para aliviar o peso das contas de luz sobre os mais pobres. “57% dos brasileiros acreditam que a Tarifa Social de Energia Elétrica não é suficiente para aliviar o peso das contas de luz sobre os mais pobres“, conclui o estudo.