Copom reduz ritmo dos cortes e Selic vai a 10,50%
Influências do cenário externo foram destacadas como a principal razão para o corte mais moderado, com ênfase na incerteza global e o ritmo de desinflação nos principais países.
Nesta quarta-feira, 8, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, que agora atinge 10,50% ao ano. A decisão, esperada por uma parte significativa do mercado – enquanto outros previam um corte mais acentuado de 0,50 p.p., marca a sétima redução consecutiva da taxa, sendo a primeira nesta magnitude após seis cortes de 50 bps. O voto foi dividido entre os membros do comitê, com um placar de 5 a 4 a favor do corte menor.
O Copom também optou por eliminar o “forward guidance” sobre futuras decisões de política monetária, enfatizando que os ajustes futuros na taxa de juros dependerão do compromisso com a convergência da inflação à meta estabelecida. Segundo o comunicado, “a política monetária deve se manter contracionista até que o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas inflacionárias se consolidem“.
Influências do cenário externo foram destacadas como a principal razão para o corte mais moderado, com ênfase na incerteza global e o ritmo de desinflação nos principais países, além de uma política monetária rígida nas maiores economias, especialmente devido às pressões nos mercados de trabalho. O documento aponta a necessidade de cautela por parte dos países emergentes.
Internamente, o Copom observa uma economia mais dinâmica do que o previsto, com atenção especial à política fiscal e seus impactos na política monetária. “Uma política fiscal crível e comprometida é fundamental para a ancoragem das expectativas inflacionárias e para a redução dos prêmios de risco“, aponta o comunicado.
Economistas como Rachel de Sá, da Rico, e Raphael Vieira, da Arton Advisors, destacam a postura mais severa do comitê em relação à inflação e à política fiscal. De Sá menciona a falta de indicações sobre os próximos passos do Copom, enquanto Vieira enfatiza a influência das expectativas inflacionárias desancoradas na decisão.
A divisão de votos foi um ponto de destaque, com Jayme Carvalho, da SuperRico, observando que a preferência de três dos novos diretores por um corte maior pode gerar nervosismo no mercado. Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos, sugere que as divergências podem levar a uma maior volatilidade nos preços dos ativos.
A resiliência da inflação e a dependência de fatores externos foram ressaltadas por Bruno Corano, da Corano Capital, especialmente em face dos recentes desastres no Rio Grande do Sul, que podem pressionar a inflação para cima.
A publicação da ata do Copom, prevista para a próxima semana, é aguardada com expectativa, como mencionado por Flávio Serrano, do Banco Bmg, que prevê a continuidade dos cortes na taxa Selic, estimando uma redução para 9,75% a.a. no término do ciclo.
Quanto aos investimentos em renda fixa, Vinicius Romano, da Suno Research, destaca que, apesar das expectativas de continuidade da queda da Selic, os pós-fixados ainda oferecem uma boa relação risco-retorno. Rachel de Sá reitera a importância dos títulos pós-fixados para investimentos de curto prazo e reservas de emergência, projetando que a Selic poderia alcançar 10% ao ano.