Dell aprova home office, mas avisa: ‘só quem for ao escritório pode ser promovido’
Funcionários acreditam que essa é uma forma de forçar uma demissão dos trabalhadores, sem que a empresa tenha que realizar cortes e demissões em massa.
A fabricante de computadores Dell atualizou em fevereiro deste ano a sua política de trabalho remoto, tida como uma das mais flexíveis do mercado de tecnologia, mesmo antes da pandemia de covid-19. Agora, as regras passaram a ficar mais rígidas.
Segundo informações obtidas pelo portal Business Insider e publicadas na semana passada, funcionários da Dell que optarem por permanecer em trabalho remoto integral (ou seja, todos os dias da semana) não estarão aptos para mudanças de trabalho ou mesmo para disputar promoções.
Para os trabalhadores da Dell, a outra opção é o modelo híbrido de trabalho, no qual a Dell considera que seja de pelo menos 39 dias presenciais em um trimestre (algo como três vezes durante a semana).
Em comunicado interno, e revelado pelo Estadão Conteúdo, a Dell afirma: “Para os membros de equipes remotas, é importante entender as desvantagens: avanço na carreira, incluindo se inscrever em novas posições na companhia, vão exigir que o membro seja reclassificado para um time híbrido.”
Já ao Business Insider, a companhia de tecnologia diz que “conexões em pessoa, junto com uma estratégia flexível, são essenciais para impulsionar a inovação e diferenciação de valor.”
Empregados da Dell não curtiram muito a novidade
Funcionários em condição de anonimato reclamaram ao Business Insider sobre a nova política.
“Estamos sendo forçados a uma posição em que ou ficaremos como o homem mais baixo no totem, o primeiro a ser cortado quando se trata de redução da força de trabalho, ou podemos ser híbridos e trabalhar vários dias por semana, o que realmente afeta muitos de nós”, disse um empregado da Dell.
Já outros empregados acreditam que essa é uma forma de forçar uma demissão dos trabalhadores, sem que a empresa tenha que realizar cortes e demissões em massa.
“Não se trata de cultura. Ponto final”, disse funcionário da Dell ao Business Insider. “Há cortes de pessoal que precisam acontecer, e estamos sofrendo. Se as pessoas saírem por conta própria, eles não precisam pagar indenização.”
Após a pandemia, empresas de tecnologia abandonam trabalho remoto
Essa estratégia difere do que vinha sendo pregado pela Dell nos últimos anos.
Em 2021, o fundador da empresa, Michael Dell, defendeu a cultura do trabalho remoto, dizendo que “está aqui para ficar, absolutamente”. Depois, ele foi ao LinkedIn criticar empresas que impunham uma política de retorno aos escritórios: “Se você está contando com as horas forçadas gastas em um escritório tradicional para criar colaboração e proporcionar um sentimento de pertencimento dentro da sua organização, você está fazendo isso errado.”
Em 2022, relembra o Business Insider, a companhia afirmava que a meta era ter 60% do pessoal trabalhando de forma remota em algum dia.
Essa flexibilidade começou a mudar em março de 2023, quando funcionários morando a uma hora do escritório foram obrigados a comparecer três dias por semana no escritório.
Ao mesmo tempo, a Dell acompanha a tendência de outras empresas de tecnologia, que vêm abandonando o trabalho remoto.
O Zoom, por exemplo, conhecido pela plataforma de videoconferências que se popularizou na pandemia, afirmou que está trazendo funcionários para os escritórios para que “sintam a dor do presencial”, de modo que os empregados possam atender melhor às expectativas dos clientes da empresa.
Entre as grandes companhias de tecnologia, apenas a Microsoft é a única a insistir no modelo remoto ou híbrido.