Investimentos da China no Brasil atingem menor patamar em 13 anos
Os investimentos dos chineses no Brasil despencou 78% em 2022 em relação ao ano anterior, a 1,3 bilhão de dólares o menor patamar registrado em 13 anos, segundo informações divulgadas na última terça-feira (29), através do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), com redução de projetos que envolvem grandes volumes de recursos.
Do ano de 2021 para 2022, o Brasil saiu do topo da lista de destinos que mais receberam investimentos chineses no mundo para a nona posição de acordo com as informações do relatório. Além disso, também se teve uma piora na taxa de efetivação dos empreendimentos chineses. Em um ano em que o investimento total da China no exterior registrou alta, ainda que modesta.
Através do documento elaborado pelo diretor de Conteúdo e Pesquisa do CEBC, Tulio Cariello pode-se destacar que a diminuição dos fluxos chineses para o Brasil ocorreu em meio a um forte crescimento dos investimentos estrangeiros como um todo no país, que saltaram 95% no ano e alcançaram 90,6 bilhões de dólares, segundo o Banco Central, maior nível em dez anos.
Ainda de acordo com o relatório, a retração observada nos aportes chineses não necessariamente reflete um desinteresse da China em investir no Brasil. Sendo resultado da não efetivação de algumas poucas iniciativas nas áreas de mineração e energia que representavam grande volume de recursos.
Em 2022, o volume de investimentos chineses anunciado foi de 4,7 bilhões de dólares, mas apenas 27% foi de fato realizado. No ano anterior, a totalidade dos 5,9 bilhões de dólares anunciados acabou confirmada. “A diferença de valor entre projetos anunciados e confirmados é explicada pelo fato de alguns investimentos particularmente intensivos em capital necessitarem de uma série de licenças para o início de suas operações. O que eventualmente pode adiar sua execução”, aponta o estudo.
Pouco investimento no Brasil e muito no mundo
Com o volume de recursos direcionados ao Brasil em queda, os investimentos chineses no mundo apresentaram uma alta moderada de 2,8% no ano passado, a 116,8 bilhões de dólares, de acordo com dados oficiais do governo chinês coletados pelo autor do estudo. O documento aponta um cenário internacional desafiador, sobretudo a partir de 2020, com o acirramento da disputa entre Estados Unidos e China, a pandemia de Covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia.
De acordo com o economista Hsia Hua Sheng, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) pode-se afirmar que a guerra na Ucrânia e a disputa entre Washington e Pequim provocaram mudança abrupta no cenário global e alteraram fluxos de recursos chineses, com o governo chinês passando a privilegiar investimentos na chamada: “Nova Rota da Seda”, plano de investimentos ao redor do mundo que não conta com a participação do Brasil.
Na avaliação do professor, a queda do ano passado, que também pode ter sido influenciada pelas incertezas eleitorais. Não representa uma tendência, e o fluxo de recursos deve ser retomado, especialmente como reflexo da priorização do novo governo na reindustrialização e no plano de transição ecológica. “Se você olhar os investimentos em 2023, tem muitos na área de energia de volta, ficaram represados do ano passado para cá”, disse Hsia. “Já tem (anúncios de investimentos) em automóveis elétricos, geração de energia eólica e solar”, ressaltou.