Para conter hiperinflação, Argentina eleva taxa de juros para 97%
Além disso, está previsto um reforço nos subsídios sociais, uma vez que a taxa de pobreza atingiu 39,2% no final de 2022
Para combater a hiperinflação, o Banco Central da Argentina tomou uma medida drástica ao elevar a taxa de juros de 91% para 97% nessa segunda-feira (15). Essa é a primeira ação de um pacote anunciado pelo governo para conter a inflação, que atingiu um patamar acima de 108% nos últimos 12 meses, o mais alto em mais de 30 anos.
O objetivo dessa alta nos juros é buscar retornos reais positivos sobre os investimentos em moeda local e agir imediatamente para evitar que a volatilidade financeira influencie as expectativas de inflação. A decisão representa um aumento de 600 pontos na taxa de referência de juros e foi anunciada em um contexto econômico tenso, em meio às eleições presidenciais marcadas para outubro.
O ministro da Economia argentina, Sergio Massa, ainda não divulgou todos os detalhes das medidas que serão adotadas pelo governo no combate à hiperinflação. Espera-se que o programa inclua estímulos ao consumo e à importação de alimentos.
Segundo a imprensa argentina, haverá uma abertura de importações em setores sensíveis, como alimentos frescos e têxteis, e um controle mais rígido de preços no comércio. Além disso, está previsto um reforço nos subsídios sociais, uma vez que a taxa de pobreza atingiu 39,2% no final de 2022.
Essas medidas têm como objetivo combater a inflação sem paralisar a atividade econômica, o que é uma tarefa desafiadora.
Dólar
Uma das preocupações do governo argentino e do Banco Central é a relação com o dólar. A moeda norte-americana se tornou um refúgio contra a hiperinflação no país. Para evitar a excessiva demanda por dólares, busca-se tornar as taxas de juros atraentes, de forma a desencorajar a fuga de investimentos em pesos. Restrições à compra de divisas foram implementadas, incentivando um mercado ilegal onde o peso é negociado a quase o dobro da cotação oficial.
O aumento do valor do dólar no mercado paralelo acaba refletindo em remarcações de preços, pois a moeda americana se tornou uma âncora de referência e um indicador das expectativas dos consumidores.
Além dos desafios inflacionários, a Argentina enfrenta a pior seca de sua história, que afetou o setor agroexportador, uma das principais fontes de receita do país. Desde janeiro, as reservas internacionais argentinas diminuíram mais de US$ 5,5 bilhões, ficando em US$ 33,58 bilhões, segundo informações do Banco Central. Economistas alertam que as reservas líquidas estão bem abaixo desse número.
A inflação atingiu um índice alarmante de 8,4% em abril, o maior em três décadas, com aumentos de 10% nos preços de frutas e verduras. O custo de vida acumulado do ano subiu 32%. Os produtos têxteis e alimentos foram os mais afetados, com aumentos em torno de 10% somente no mês de abril.
Diante desse cenário, o governo argentino busca soluções para tornar os alimentos mais acessíveis, incluindo a importação direta de alimentos com tarifa zero por meio do Mercado Central.