Para onde vão as águas da sangria do Gargalheiras?
Parte das águas que encheram o Gargalheiras já tinha saído de outro açude do Seridó, o Dourado, localizado em Currais Novos, que começou a sangrar em março deste ano.
Treze anos depois da última cheia, o açude Marechal Dutra, em Acari, conhecido como Gargalheiras, voltou a transbordar, após uma recarga que durou apenas 42 dias. Foi a 30ª “sangria” em 65 anos. O ponto de transbordamento foi verificado às 23h15 de quarta-feira (03) quando atingiu 100% da capacidade, que é de 44,4 milhões de metros cúbicos.
De acordo com o Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte (Igarn), antes da sangria efetiva e contínua, pequenos episódios com água descendo pela parede foram registrados e divulgados em redes sociais, motivados por marolas provocadas pelo vento e de barcos no açude. A última vez que isso ocorreu foi em 19 de maio de 2011.
O Gargalheiras abastece a cidade de Acari e complementa o abastecimento de Currais Novos. Até a primeira quinzena de fevereiro, havia a possibilidade de colapso no fornecimento de água tratada das duas cidades em função do baixo volume armazenado nos dois reservatórios.
Juntos, Gargalheiras e Dourado acumulavam menos de 1 milhão de metros cúbicos, em 15 de fevereiro deste ano, situação que levou o governo do Estado, em comum acordo com a Codevasf (responsável pelas obras), a antecipar a construção do trecho 4-Norte da Adutora Seridó para garantir o abastecimento de 52 mil habitantes das duas cidades.
Com Dourado e Gargalheiras cheios, a Caern estima que o abastecimento de Acari e Currais Novos está garantido por quatro anos, mesmo que não haja recarga.
Para onde vai sangria do açude Gargalheiras?
Com o transbordamento, as águas agora seguem por rios da região em direção a outros reservatórios do estado.
Parte das águas que encheram o Gargalheiras já tinha saído de outro açude do Seridó, o Dourado, localizado em Currais Novos, que começou a sangrar em março deste ano.
Com a sangria do Gargalheiras, agora a água corre para o açude Passagem das Traíras, em Jardim do Seridó, depois segue com força total para a Barragem de Oiticica, ainda em construção no município de Jucurutu, e possivelmente devem chegar à Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, o maior reservatório hídrico do estado, entre os municípios de Assu, Itajá e São Rafael.
De acordo com Nelson Césio Santos, coordenador de regularização do Igarn, o cenário atual representa total segurança hídrica da população da região.
“O impacto é a melhoria na situação hídrica das reservas acumuladas no estado e também vai servir para um aumento da segurança hídrica das populações que são abastecidas pelo reservatório Armando Ribeiro Gonçalves. Todos vão se beneficiar porque vão ter mais segurança hídrica para o ano de 2024 e 2025“, afirma.
No entanto, o coordenador ainda explica que outros açudes da região Seridó, como Itans e Boqueirão, não encheram, porque não fazem parte da mesma bacia hidrográfica, e dependem de chuvas em outras áreas.
Patrimônio
As obras do Gargalheiras foram iniciadas em 1956 e concluídas em 1959, quando foi oficialmente inaugurado, em 27 de abril daquele ano. Os registros históricos mostram que o reservatório “sangrou” nove vezes na década de 1960; sete na de 1970; cinco na de 1980 e quatro na de 1990. No Século 21 foram apenas cinco vezes, incluindo esta de 2024.
Em janeiro de 2023, o Gargalheiras foi elevado à condição de patrimônio cultural, histórico, geográfico, paisagístico, ambiental e turístico do Rio Grande do Norte. A área no entorno do reservatório é um dos 21 geossítios relacionados no Mapa Geoturístico do Seridó Geoparque Mundial da Unesco.
Com um volume de chuvas 45% acima no normal no primeiro trimestre de 2024, os reservatórios monitorados pelo Igarn acumulam, nesta quinta-feira (04), 2,82 bilhões de metros cúbicos, o equivalente a 63,36% da capacidade armazenamento.