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Pesquisa da UFRN descobre nova espécie de ave na região do Rio São Francisco

A equipe conseguiu, ainda, traçar o histórico de crescimento da nova espécie. Ambas as variedades das aves ampliaram o número e o alcance da região onde se estabeleceram, desde a Última Era do Gelo (ocorrida há cerca de 20 mil anos).

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em colaboração com o Instituto Tecnológico Vale (ITV), o Museu Paraense Emílio Goeldi e a Universidade Federal do Pará (UFPA), descobriram uma nova espécie de ave na região do Rio São Francisco. A nova espécie, batizada de choca-do-nordeste-de-cauda-barrada (Sakesphoroides niedeguidonae), apresenta características genéticas distintas da já conhecida choca-do-nordeste (Sakesphoroides cristatus). A descoberta foi publicada na revista Zoologia Scripta.

Os estudos apontaram que as alterações climáticas e as mudanças no curso do Rio São Francisco foram fundamentais para o surgimento da nova espécie. Essas mudanças separaram um grupo de aves, levando à diferenciação genética e à criação de uma nova espécie com uma cauda barrada distinta e variações no canto. A variação genética entre as espécies foi de 1,8%.

Para realizar a pesquisa, os cientistas analisaram 58 amostras de material genético e examinaram 1079 aves, incluindo uma fêmea encontrada na Serra Vermelha, em São Raimundo Nonato (PI). A coleta de dados resultou em 568 registros de ocorrência, que ajudaram a mapear o parentesco entre as linhagens das aves. A análise mostrou padrões distintos de canto e plumagem entre as aves.

O pesquisador Mauro Pichorim, do Departamento de Botânica e Zoologia (DBEZ) da UFRN, destacou a importância da descoberta: “Essa espécie nova, que vive na região mais ao norte e a oeste do Rio São Francisco, pode estar enfrentando uma diferença de perda de habitat maior do que a espécie já conhecida”. Apesar disso, ele afirmou que a ave, endêmica da Caatinga, ainda não está ameaçada de extinção, embora outras espécies do bioma já estejam sofrendo com a destruição de seu habitat.

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Alexandre Aleixo (ITV), Gabriela R. Gonçalves (UFPA), Marcelo Silva (Museu Emílio Goeldi), Pablo Cerqueira (ITV e UFPA) e Tânia F. Quaresma (ITV) integraram a equipe de pesquisa, que usou métodos de amostragem densa e dados biológicos para entender a variação que levou à descoberta da S. niedeguidonae. A espécie foi nomeada em homenagem à arqueóloga Niède Guidon, conhecida por suas pesquisas na Serra da Capivara.

Pesquisa da UFRN descobre nova espécie de ave na região do Rio São Francisco choca-do-nordeste-de-cauda-barrada
Nova espécie choca-do-nordeste-de-cauda-barrada — fêmea, à esquerda, possui crista amarela; o macho tem a cabeça tingida de preto – Foto: Pablo Cerqueira

As mudanças no curso do Rio São Francisco desempenharam um papel crucial na separação das espécies. Segundo os pesquisadores, o tempo de divisão entre a nova espécie e o S. cristatus coincide com a alteração no curso do rio, que resultou em novos contatos entre as espécies na região do Raso da Catarina, na Bahia.

A equipe conseguiu traçar o histórico de crescimento da nova espécie, mostrando que ambas as variedades de aves expandiram seu número e alcance desde a Última Era do Gelo, ocorrida há cerca de 20 mil anos.

Mauro Pichorim destacou a dinâmica do bioma da Caatinga, que sempre foi visto como homogêneo, mas que, na verdade, é bastante dinâmico, especialmente nos últimos milhões de anos devido a variações climáticas. “A Caatinga, no geral, sempre foi vista de forma homogênea: sempre sendo deixada de lado em relação a novidades taxonômicas, filogenéticas, de padrões de evolução [da natureza]”, afirmou Pichorim.

Mas, na verdade, o bioma sempre foi muito dinâmico, principalmente nos últimos milhões de anos, com a glaciação, havendo variação do clima”, complementou.

As condições climáticas variadas ao longo da história do planeta e da Caatinga podem ter contribuído para a diversificação de outras espécies, além da choca-do-nordeste.

[A formação de] cadeias de serra e de montanhas têm influência na especiação […]. Podem ocorrer mais alguns processos de criação de espécies em áreas mais serranas: em topos de serras e em ‘brejos’ temos dinâmicas importantes”, comentou Pichorim. Ele também sugeriu que anfíbios, lagartos, cobras e até peixes podem passar por processos de especiação devido às mudanças naturais e biológicas.

Rafael Nicácio

Estudante de Jornalismo, conta com a experiência de ter atuado nas assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte e da Universidade Federal (UFRN). Trabalha com administração e redação em sites desde 2013 e, atualmente, administra o Portal N10 e a página Dinastia Nerd. E-mail para contato: rafael@oportaln10.com.br

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