Oriente Médio: entenda como a guerra impacta o preço do petróleo

O Oriente Médio tornou-se foco nas últimas semanas da atenção internacional em função dos ataques terrorista do Hamas à Israel, provocando um conflito de grandes proporções com potencial impacto em importantes atores no mercado mundial de petróleo. Embora qualquer guerra no Oriente Médio seja uma ameaça potencial à segurança do abastecimento de petróleo, uma guerra que envolva um produtor da dimensão do Irã e países do Golfo Pérsico, poderá ter implicações ainda mais profundas para o mercado global de petróleo.

Com isso, o setor pode enfrentar um risco significativo na oferta a depender da escalada dos conflitos. Entretanto, pelo menos por hora, em função dos recentes cortes na produção para manutenção dos preços de petróleo em patamares desejáveis pela OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados liderados pela Rússia), na faixa de US$ 80 a US$ 90, os principais produtores do grupo parecem estar mais bem equipados para resistir ao choque, se comparado com crises anteriores.

Outro acontecimento importante e que pode influenciar a oferta no médio/longo prazo, é que os EUA levantaram a maioria das sanções ao setor energético da Venezuela durante seis meses, abrindo, assim, caminho para exportações adicionais de petróleo bruto pesado que o país produz. Entretanto, no curto prazo, em função de anos de subinvestimento e má gestão do setor no país. Devem limitar o crescimento da produção de petróleo bruto a menos de 200 mil barris por dia (mbd) até ao final de 2024. Exigindo mais tempo e investimento para crescimento adicional da oferta.

As importações de petróleo bruto dos EUA provenientes da Venezuela pararam pouco depois de janeiro de 2019, quando os Estados Unidos impuseram sanções à empresa petrolífera estatal Petróleos de Venezuela SA (PdVSA). Os EUA aliviaram essas sanções no fim do ano passado. Proporcionando isenções à Chevron para que esta pudesse retomar a exportação de petróleo bruto das suas operações de joint venture na Venezuela para as refinarias da Costa do Golfo dos EUA, que foram reiniciadas no início de 2023.

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Neste contexto, o mercado global de petróleo deverá permanecer extremamente tensionado, e ainda mais incerto em função dos conflitos no Oriente Médio. Espera-se que a Arábia Saudita cumpra as quotas de produção reduzidas que acordou com os seus parceiros do grupo OPEP+, pelo menos até o final do primeiro trimestre de 2024. Portanto, é pouco provável que OPEP+ aumente a produção de forma acentuada durante o resto do ano. Além disso, o mercado espera atingir um patamar de produção histórico. Estimado em 102 milhões de barris/dia em 2023. E a procura global de petróleo deverá aumentar em cerca de mais 1,3 milhões de barris/dia em 2024.

Guerra x Petróleo

Ao ser consultado pelo N10, o ex-diretor da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e Managing Partner na FK Energy Partners, Felipe Kury, apontou se a atual crise no Oriente Médio e o consequente aumento dos preços do petróleo podem influenciar os investimentos globais em energia renováveis.

“Muito antes mesmo da pandemia da COVID-19. Diversos países ao redor do mundo já vinham acelerando a implantação de políticas públicas no sentindo de diminuir a dependência de combustíveis fósseis, ampliando investimentos e pesquisas em fontes de energia renovável. Em particular em projetos em energia solar e eólica. O fato é que, por décadas. O mundo vem buscando soluções que mitiguem os efeitos advindos da utilização de combustíveis fósseis no clima e no meio ambiente”, afirmou.

Além disso, o ex-diretor da ANP afirmou para o N10 que os conflitos na Europa e no Oriente Médio agravam ainda mais este contexto, gerando uma enorme incerteza e, certamente, adicionando mais volatidade nos preços do petróleo. Com isso, cria-se uma maior insegurança energética principalmente para países com grande dependência externa do petróleo.

Kury ressaltou que através de um relatório recente, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) estima que a procura mundial atinja 116 milhões de barris por dia (bpd) até 2045. Quando seria atingido o pico da demanda. “Entretanto, estas previsões dependem das tendências econômicas futuras. Dos desenvolvimentos tecnológicos e dos esforços das sociedades e dos governos para mitigar as alterações climáticas”, pontuou.

Ao ser questionado pelo N10, Felipe Kury, apontou que as principais estratégias que os grandes consumidores de petróleo, como União Europeia e os Estados Unidos adotam para mitigar os riscos geopolíticos associados a dependência do petróleo do Oriente Médio tem sido a busca pelo equilíbrio de três variáveis importantes. Segurança energética, diversificação/ampliação das fontes de energia e sustentabilidade.

Kury afirmou que quanto maior o horizonte de prazo, mais difícil fazer previsões em relação aos preços do petróleo, oferta e demanda, especialmente considerando o contexto geopolítico do momento. Os países da OPEP+ (inclui a Rússia) continuam a manter a produção de petróleo abaixo do consumo global. “Com isso, esperam obter uma pressão ascendente sobre os preços, com o objetivo de aumentar a média para cerca de US$ 95 por barril em 2024”.

Para finalizar, Felipe Kury, pontuou que os mercados continuarão voláteis e a escalada do conflito poderá fazer subir os preços ainda mais, podendo chegar a patamares bem acima de US$ 100 o barril, o que certamente prejudicaria o controle da inflação nos EUA e Europa. Além disso, os países em desenvolvimento, especialmente os que importam petróleo e outros derivados. Devem ser os mais afetados pelos preços mais elevados.

“Neste contexto adverso e incerto, a busca por independência e segurança energética é primordial. Porém, grande parte do planeta se encontra em posição desfavorável e vulnerável para se proteger dos efeitos de crise energética global resultante da escalada dos conflitos no Oriente Médio“, concluiu.

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