Pesquisas recentes revelam uma relação preocupante entre o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) e o surgimento de sintomas depressivos, além de outros transtornos relacionados à saúde mental. Dois estudos importantes, publicados nas revistas científicas British Medical Journal (BMJ) e na Clinical Nutrition, alertam para os riscos dessa relação e destacam a necessidade de uma mudança nos padrões alimentares para reduzir o consumo desses produtos.
Um estudo brasileiro, realizado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens/USP), apontou que indivíduos que consomem mais alimentos ultraprocessados têm um risco 42% maior de desenvolver sintomas depressivos, como baixa energia, falta de prazer nas atividades e humor deprimido. Os dados reforçam a urgência de se discutir políticas públicas voltadas para a saúde alimentar no Brasil. Segundo o estudo, a cada 10% de aumento no consumo desses produtos, o risco de sintomas depressivos sobe em 21%.
Além disso, uma revisão sistemática e metanálise, publicada no BMJ, mostra que o consumo elevado de ultraprocessados não só aumenta o risco de depressão em 22%, mas também está associado a outros problemas de saúde mental, como ansiedade (48%), distúrbios do sono (41%) e transtornos mentais comuns (53%).
Bruna Hassan, pesquisadora da ACT Promoção da Saúde, falou com o Portal N10 e demonstrou preocupação com os resultados: “As evidências científicas sobre essa relação estão aumentando a cada ano. O consumo de ultraprocessados está se tornando cada vez mais comum por conta de sua acessibilidade e conveniência, mas os impactos para a saúde mental são alarmantes.”
Os alimentos ultraprocessados costumam ser ricos em açúcares, gorduras e aditivos químicos, com baixo valor nutricional. Abaixo, você pode conferir alguns desss alimentos que são comumente consumidos e que podem estar associados a riscos para a saúde mental:
- Refrigerantes e bebidas adoçadas
- Salgadinhos de pacote
- Bolachas e biscoitos recheados
- Margarinas e cremes vegetais
- Pizzas e lasanhas congeladas
- Cereais matinais açucarados
- Nuggets e hambúrgueres industrializados
- Sopas e macarrões instantâneos
- Achocolatados e bebidas prontas
- Doces industrializados, como balas e chocolates
O aumento do consumo de alimentos ultraprocessados reflete mudanças profundas nos padrões alimentares da população, que busca rapidez e praticidade no dia a dia. Contudo, a saúde pública enfrenta um desafio crescente para lidar com os impactos negativos dessa alimentação na saúde mental. Especialistas recomendam uma reavaliação urgente dos hábitos alimentares, focando em alimentos frescos e naturais, como arroz, feijão, hortaliças e frutas.
Diante desse cenário, uma das estratégias defendidas por especialistas é a inclusão de medidas tributárias mais rígidas para alimentos ultraprocessados no Brasil. A Reforma Tributária, em andamento no Congresso, poderia conter alíquotas mais elevadas para produtos que prejudicam a saúde e, por outro lado, incentivar o consumo de alimentos mais saudáveis. “Precisamos de políticas públicas que desincentivem o consumo desses produtos e que incentivem o acesso a alimentos saudáveis, que são essenciais para melhorar a saúde física, mental e o bem-estar da população”, complementa Hassan.
A ACT Promoção da Saúde, uma organização não governamental, tem atuado na defesa de políticas que promovam hábitos alimentares saudáveis e que impactem positivamente a saúde pública. Entre suas principais frentes de atuação estão o controle do tabagismo, controle do álcool, a alimentação saudável e o incentivo à atividade física, sempre buscando influenciar políticas e mobilizar a sociedade em prol dessas causas.
Os dados apresentados pelas pesquisas reforçam a importância de se discutir o impacto dos alimentos ultraprocessados na saúde mental, com um olhar mais atento para políticas públicas e educacionais que possam mitigar esses efeitos.
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