Doenças cardíacas representam a principal causa de morte em todo o mundo, tanto para homens quanto para mulheres. No Brasil, esse cenário também se repete, com um número alarmante de óbitos femininos relacionados a problemas cardíacos. Uma pesquisa recente, liderada pelo Instituto de Biociência Molecular da Universidade de Queensland, lança luz sobre uma possível conexão genética entre depressão e o desenvolvimento de doenças cardíacas, especificamente em mulheres.
O estudo, publicado na revista científica renomada, analisou dados genômicos e de saúde de aproximadamente 345.000 pessoas no Reino Unido. Os pesquisadores investigaram separadamente a relação entre a predisposição genética à depressão e o risco de doenças cardíacas em homens e mulheres.
A pesquisa revelou uma forte associação entre um maior risco genético de depressão e um aumento na probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares em mulheres. Essa correlação incluiu condições como doença arterial coronariana, fibrilação atrial e insuficiência cardíaca. O impacto foi observado mesmo em mulheres que nunca haviam recebido um diagnóstico de depressão ou transtorno psiquiátrico, nem relatado o uso de medicamentos psiquiátricos. Curiosamente, essa mesma relação não foi observada em homens.
A pesquisa esclarece que a relação encontrada não se deve simplesmente a mudanças comportamentais ou ao uso de medicamentos decorrentes de um diagnóstico de depressão. A influência de fatores de risco conhecidos, como índice de massa corporal (IMC), pressão alta e tabagismo, foram considerados, mas não explicam totalmente a diferença entre os sexos observada no estudo. A influência da menopausa também foi analisada, mas a associação genética persistiu independente do estágio reprodutivo da mulher.
Os resultados sugerem a existência de fatores biológicos ou genéticos comuns que aumentam o risco tanto de depressão quanto de doenças cardíacas nas mulheres. Este estudo levanta a necessidade de revisão em ferramentas de avaliação de risco cardíaco, como a calculadora de risco cardiovascular utilizada no Brasil, que frequentemente subestima o risco em mulheres, não levando em consideração esses fatores específicos.
Atualmente, apenas o QRISK3, utilizado no Reino Unido, inclui o diagnóstico de depressão em seu cálculo, mas considera seu impacto semelhante em ambos os sexos, enquanto essa pesquisa evidencia a necessidade de uma abordagem diferenciada para as mulheres.
Recomendações e próximos passos
São necessárias mais pesquisas para compreender completamente essa relação entre risco genético de depressão e doenças cardíacas em mulheres. No entanto, o estudo destaca a importância de check-ups cardíacos regulares, especialmente para mulheres com histórico familiar ou diagnóstico de depressão, incluindo mulheres mais jovens, um grupo com alta prevalência de depressão, mas tradicionalmente considerado de baixo risco para doenças cardíacas.
É fundamental que a saúde cardíaca feminina seja abordada de forma específica, reconhecendo as diferenças entre os sexos e a complexa interação entre fatores genéticos e o risco de doenças cardiovasculares.
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