A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) lançou uma campanha digital intitulada HIV/Aids – Lembrar para jamais esquecer, com foco na prevenção da Aids, principalmente entre jovens de 13 a 29 anos. A iniciativa, divulgada em 26 de novembro de 2024, utiliza posts, vídeos e uma minissérie documental para abordar a transmissão do vírus HIV e o desenvolvimento da doença, contextualizando-a historicamente e destacando sua relação com a desigualdade social e o estigma.
Dados alarmantes sobre o aumento de casos em determinados grupos populacionais impulsionam a campanha. Em 2022, 23,4% dos diagnósticos de HIV foram em jovens entre 15 e 24 anos. A faixa etária entre 20 e 29 anos representou 40,7% dos novos casos no mesmo ano, segundo o Boletim Epidemiológico HIV/Aids de 2023. Um crescimento significativo também foi observado em mulheres com 50 anos ou mais, com um aumento de 11,4% dos diagnósticos em 2012 para 20,3% em 2022.
O boletim do Ministério da Saúde também revela números preocupantes sobre o total de infecções notificadas. Entre 2007 e 2023, foram 489.594 infecções, sendo 70,5% em homens e 29,5% em mulheres. De 1980 a junho de 2023, o Brasil registrou 1.124.063 casos de Aids, com uma média de 35.900 novos casos nos últimos cinco anos. A desigualdade social se reflete nos dados: em 2022, 65% dos novos casos ocorreram entre pessoas pretas e pardas, evidenciando a falta de acesso a estratégias de prevenção em comunidades vulneráveis.
A minissérie documental, com quatro episódios, estreia no YouTube da SBI em 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids. O primeiro episódio fará um retrospecto das quatro décadas de combate ao HIV no Brasil, incluindo relatos de pessoas que convivem com o vírus em diferentes épocas e realidades. Segundo Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da SBI, o diagnóstico precoce é fundamental, mas o acesso a testes e tratamentos ainda é um desafio para uma parcela significativa da população. A Lei 9.313/96 garante o acesso universal e gratuito aos medicamentos antirretrovirais pelo SUS, mas a implementação plena dessa lei ainda é um desafio.
Barbosa destaca a importância da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) como ferramenta de prevenção. “Assim como tuberculose, hanseníase e um série de outras infecções, o HIV/Aids é, no Brasil, uma doença determinante social. Ao todo, 65% dos novos casos, em 2022, foram entre pretos e pardos, ou seja, negros, porque eles têm menos acesso a estratégias de prevenção. É onde a PrEP [Profilaxia Pré-Exposição] nem chega, as pessoas não conhecem”, afirma Barbosa. A PrEP, disponível no SUS desde 2018, consiste na tomada de comprimidos (tenofovir + entricitabina) antes da relação sexual, para proteger o organismo contra o HIV. Apesar disso, seu uso ainda é concentrado em homens gays e brancos com alta escolaridade. Em 2023, cerca de 73 mil pessoas utilizavam a PrEP no país.
A busca por uma vacina contra o HIV ainda é uma realidade distante. José Valdez Madruga, coordenador do Comitê Científico de HIV/Aids e ISTs da SBI, menciona o fracasso do Estudo Mosaico, que testou um imunizante em 3.900 pessoas em oito países e não demonstrou eficácia. “Foi um banho de água fria. O estudo pegava partes do vírus HIV e foi interrompido, porque a vacina era segura, mas não prevenia contra o HIV”, explica Madruga. A campanha da SBI também promoveu um debate sobre a linguagem utilizada na comunicação sobre a Aids, com a sugestão de evitar termos que remetam à guerra, como a expressão “luta contra o HIV/Aids”, proposta pelo influenciador Lucas Raniel que declarou: “A gente é tratada como alvo”
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