Nos últimos 30 anos, as bactérias que causam a febre tifoide tornaram-se mais resistentes a alguns dos antibióticos mais utilizados para a saúde humana, de acordo com um estudo publicado na última terça-feira (21) na revista The Lancet Microbe.
Os resultados obtidos por um grupo internacional de cientistas após a análise genômica da ‘Salmonella enterica serovar typhi’ (abreviado como S.Typhi) também revelam que cepas resistentes se espalharam pelo menos 197 vezes entre diferentes países desde 1990. A maioria das cepas foi encontrada no sul da Ásia, bem como na África Oriental e do Sul , no Reino Unido, EUA e Canadá.
Embora a resistência aos antibióticos tenha diminuído no sul da Ásia em geral, cepas resistentes a drogas como macrolídeos e quinolonas (ambos entre os antibióticos mais críticos) aumentaram consideravelmente, espalhando-se para outros países.
“A velocidade com que as cepas altamente resistentes de S.Typhi surgiram e se espalharam nos últimos anos é um motivo real de preocupação e destaca a necessidade de aumentar urgentemente as medidas de prevenção, especialmente nos países em desenvolvimento”, disse Jason Andrews, principal autor do estudo, da Stanford University (EUA).
“Ao mesmo tempo, o fato de cepas resistentes terem se espalhado internacionalmente tantas vezes também ressalta a necessidade de considerar o controle da febre tifoide e a resistência a antibióticos em geral como um problema global e não local”, explicou Andrews ao portal Medicalxpress.
Para chegar a esta conclusão, os especialistas realizaram o sequenciamento genômico completo de 3.489 cepas identificadas em amostras de sangue colhidas entre 2014 e 2019 em pacientes confirmados com a doença em Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão. Outras 4.169 amostras de mais de 70 países colhidas entre 1905 e 2018 foram sequenciadas e depois adicionadas à análise.
Os resultados mostraram que as mutações genéticas que desenvolvem resistência às quinolonas se espalharam pelo menos 94 vezes desde 1990, com 97% dos casos ocorrendo no sul da Ásia. Assim, cepas resistentes a esse tipo de antibiótico representavam mais de 85% de S.Typhi em Bangladesh no início de 2000, enquanto o índice subiu para mais de 95% na Índia, Paquistão e Nepal em 2010.
Por outro lado, mutações que desenvolvem resistência à azitromicina (um antibiótico macrolídeo) foram relatadas pelo menos sete vezes nas últimas duas décadas.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 11 e 21 milhões de pessoas contraem febre tifoide a cada ano. Destes, entre 128 mil e 161 mil morrem. Entre os grupos mais expostos estão as comunidades sem acesso a água potável ou sistemas de saneamento adequados. “A febre tifoide pode ser tratada com antibióticos, embora a crescente resistência a diferentes tipos de antibióticos torne o tratamento mais complicado. Mesmo após o desaparecimento dos sintomas, o paciente pode continuar sendo portador da bactéria e transmiti-la pelas fezes”, enfatiza a instituição da ONU.
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