(ANSA) – O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão do cargo nesta segunda-feira (29), informam diversos veículos de mídia. O chanceler está reunido com o presidente da República, Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto desde o fim da manhã e teria se antecipado à decisão do mandatário.
Araújo coleciona uma série de polêmicas à frente do Itamaraty desde o início do governo Bolsonaro, em problemas que se agravaram durante a pandemia de Covid-19.
Um dos expoentes mais “ideológicos” do governo, que difunde diversas teorias da extrema-direita, o ministro chegou a publicar um texto em que classificava o coronavírus Sars-CoV-2 como “comunavírus” e atacou por diversas vezes o maior parceiro econômico do país.
Além disso, idolatrava o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e chegou a fazer campanha para o republicano. Quando Joe Biden foi eleito, o Brasil foi um dos últimos países do mundo a parabenizar o democrata.
Nas últimas semanas, porém, a situação foi ficando cada vez mais grave por conta da demora do governo Bolsonaro em comprar vacinas anti-Covid – além da lentidão em demonstrar interesse em receber as vacinas excedentes dos EUA.
Araújo foi duramente atacado pelos senadores na semana passada durante uma sessão para debater a compra das vacinas e todos os políticos – de qualquer vertente política – pediram publicamente que ele renunciasse ao cargo.
Neste domingo (28), o chanceler atacou a senadora Kátia Abreu (PP/TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, por uma suposta conversa sobre o 5G chinês – que o governo ainda não autorizou ou vetou no leilão nacional.
“Em 4/3, recebi a senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: ‘Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado’. Não fiz gesto algum”, escreveu em sua conta no Twitter.
Em nota oficial, Abreu chamou o ministro de ser como “a face de um marginal” que colocou o país à margem dos assuntos mais importantes da chancelaria mundial. “Desviar o assunto pra tirar o foco do que é mais importante : Vacinas e vidas! Vamos voltar ao jogo rápido. Não farei o jogo deles “, postou nas redes sociais a senadora.
Outro fator importante da gestão Araújo é ter alterado bastante a dinâmica das relações internacionais brasileiras. Por tradição, o Brasil sempre atuou como mediador em diversas questões importantes, com bastante pragmatismo, sem ter um alinhamento automático com nenhum país.
Durante o período em que o chanceler ficou à frente do Itamaraty, isso mudou bruscamente. O país passou a se alinhar com os Estados Unidos automaticamente e minou diversas posturas como no caso dos palestinos, do fim das patentes para as vacinas anti-Covid com a Índia ou ainda de atacar os países vizinhos, como nos casos da Venezuela e Argentina, por visões ideológicas.
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