(ANSA) – As delegações de Rússia e Ucrânia apontaram avanços nas negociações realizadas nesta terça-feira (29) em Istambul, na Turquia.
Esse foi o primeiro encontro presencial entre representantes de Moscou e Kiev em duas semanas, já que as conversas vinham sendo realizadas por meio de videoconferência. O objetivo das tratativas é alcançar um cessar-fogo na Ucrânia ou ao menos garantir ajudas humanitárias aos deslocados pela guerra.
“Foi uma conversa construtiva”, disse o negociador-chefe da Rússia, Vladimir Medinsky. Segundo ele, a Ucrânia enviou por escrito uma proposta que garante sua “neutralidade”, ou seja, o compromisso de não ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e seu status de país “desnuclearizado”.
Em troca dos avanços, Moscou anunciou uma redução “radical” de suas ações em duas regiões ucranianas. “Como as negociações para um acordo sobre a neutralidade e o status não-nuclear da Ucrânia entraram em uma dimensão prática, decidimos, para aumentar a confiança, reduzir radicalmente as atividades militares em direção a Kiev e Chernihiv”, disse o vice-ministro russo da Defesa, Alexander Fomin.
Além da neutralidade da Ucrânia, a Rússia exige o reconhecimento da anexação da Crimeia e da soberania do Donbass, região onde ficam as autoproclamadas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk. Essa é a questão mais espinhosa e será negociada de forma separada, segundo o delegado ucraniano Mikhailo Podolyak.
Em troca do compromisso de não aderir à Otan, Kiev insistiu que sua candidatura para entrar na União Europeia não pode ser bloqueada. O pedido já foi formalizado pelo presidente Volodymyr Zelensky, mas ainda aguarda um parecer da Comissão Europeia para iniciar sua tramitação.
A Ucrânia também exige a instituição de um mecanismo internacional de garantias de segurança similar ao artigo 5 da Otan, que determina que um ataque a um membro da organização deve gerar uma resposta conjunta da aliança.
Esse mecanismo prevê a formação de um grupo de países capazes de dar uma resposta dentro de 24 horas no caso de uma eventual agressão externa. Diversas nações já foram cotadas para esse instrumento, incluindo os membros do Conselho de Segurança da ONU, Alemanha, Canadá, Israel, Itália e Turquia.
“Continuaremos nossas negociações com a Rússia, mas também envolveremos os países garantidores”, explicou Podolyak. Ele ainda disse que foram feitos avanços para um encontro entre os presidentes Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin.
No entanto, segundo a delegação russa, essa reunião só deve ocorrer após a conclusão de um esboço de acordo.
Erdogan
Ao receber as duas delegações, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que ambos os lados têm “preocupações legítimas” e devem ser ouvidos para “colocar fim a essa tragédia”. “Chegar à paz e ao cessar-fogo o quanto antes será benéfico para todos”, declarou o mandatário.
Segundo Erdogan, uma “paz justa” não terá perdedores. “Espero que nossos encontros sejam de bons auspícios para seus países, para nossa região e para toda a humanidade”, acrescentou.
De acordo com a emissora britânica Sky News, o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, alertou que os negociadores do país não devem “comer, beber nem tocar quaisquer superfícies” para evitar envenenamentos.
Na última segunda-feira (28), surgiram notícias sobre um suposto envenenamento do oligarca russo Roman Abramovich, dono do Chelsea, e de dois negociadores ucranianos durante uma reunião em Kiev no início de março, informações qualificadas por Moscou como “propaganda”.
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