A 29ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29), realizada em Baku, Azerbaijão, contou com a participação significativa de jovens ativistas do Sul Global, dando voz a uma geração que herda as consequências das ações climáticas do passado. O Instituto Alana, por exemplo, levou uma delegação de quatro jovens ativistas do Children For Nature Fellowship, um programa que busca garantir a participação de crianças e adolescentes em debates globais sobre meio ambiente.
Entre os representantes estavam duas brasileiras, Catarina Lourenço (17 anos, Bahia) e Taissa Kambeba (14 anos, Amazonas), além de um mexicano de 13 anos e um colombiano de 15. O Instituto criou um espaço chamado Kids’ Corner, inspirado no Speaker’s Corner do Hyde Park, em Londres, para que esses jovens pudessem expressar suas preocupações e reivindicar seus direitos em relação ao clima.
Catarina, oriunda de uma família com forte histórico de ativismo ambiental, relatou sua trajetória desde os 7 anos, participando de protestos contra empreendimentos imobiliários que ameaçavam o Parque Ecológico do Vale Encantado na Bahia. Aos 9 anos, já guiava grupos em trilhas, impactando-se profundamente ao presenciar a degradação dos corais. “O coral estava coberto de pontos brancos, mas o que estava mais estranho era a temperatura da água“, disse ela, destacando a necessidade de uma maior participação juvenil nas negociações climáticas, argumentando que são os jovens que estão sofrendo as consequências das falhas das gerações anteriores. Sua participação na petição global liderada por Greta Thunberg, que levou o reconhecimento oficial da ONU sobre a violação dos direitos das crianças pela falta de ação climática, ilustra seu comprometimento. Ela também fundou o Clube Verde para envolver outras crianças em ações ambientais.
Taissa, representante indígena da Amazônia, compartilha a mesma preocupação e destaca a importância de sua luta, enfatizando que “quem sofre é a gente, é essa geração“. Ela afirma ter se engajado desde cedo na luta ambiental em sua comunidade, muitas vezes enfrentando o ceticismo de adultos. “Se a gente está aqui hoje, se está lutando por isso, é porque a gente sabe alguma coisa, procura saber de alguma coisa. E a gente procura ter um futuro melhor do que hoje“, completou.
Um relatório recente da Fundação Abrinq, intitulado “Mudanças Climáticas e seus Impactos na Sobrevivência Infantil”, reforça a urgência da ação climática. O documento destaca os impactos devastadores de um aumento na temperatura global, prevendo consequências como a extinção de espécies marinhas, mudanças de bioma em larga escala e escassez de água. O relatório detalha os riscos para diferentes níveis de aumento de temperatura, com impactos mais severos a partir de 1.5°C, incluindo a perda significativa de recifes de coral e o aumento de doenças relacionadas à nutrição. O documento também aponta que crianças e adolescentes herdam os problemas sociais, econômicos e políticos causados pela falta de ação climática, enfatizando que a vulnerabilidade é exacerbada pela desigualdade social.
O relatório posiciona o Brasil na 70ª posição em um ranking de 163 países em relação ao risco climático para crianças, com 40 milhões de crianças e adolescentes expostos. Ele também destaca o Brasil como um dos maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) globalmente, principalmente devido ao desmatamento da Amazônia e às emissões do setor agrícola. A poluição do ar, agravada por queimadas e combustíveis fósseis, é outra preocupação grave. Apesar desse cenário, o relatório ressalta o potencial do Brasil para mitigar os efeitos da crise climática através da preservação da Amazônia.
A participação dos jovens ativistas da COP29 demonstra a importância de dar voz às gerações futuras na luta contra as mudanças climáticas. Suas experiências e reivindicações reforçam a necessidade de ações concretas e imediatas para garantir um futuro sustentável para todos.
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