Um estudo recente da Texas A&M University-Corpus Christi (TAMU-CC) revelou a presença de fentanil e outras drogas em dezenas de golfinhos no Golfo do México. A pesquisa, publicada em *iScience*, analisou amostras de tecido de 89 golfinhos, constatando a substância em 24 amostras, incluindo todas as de seis animais mortos. O sedativo meprobamato e o relaxante muscular carisoprodol também foram encontrados na gordura desses mamíferos marinhos.
A pesquisa, que começou em 2020 com testes de rotina de hormônios em golfinhos-nariz-de-garrafa (*Tursiops truncatus*), surpreendeu os pesquisadores com a descoberta de diversos fármacos nos tecidos. A bióloga Anya Ocampos e seus colegas usaram um espectrômetro de massas para analisar a extensão da contaminação.
Segundo a mamologista Dara Orbach da TAMU-CC, "Fármacos se tornaram micropoluentes emergentes e são uma crescente preocupação global, já que sua presença foi relatada em ecossistemas de água doce, rios e oceanos em todo o mundo". A Dra. Orbach explica ainda que os golfinhos são frequentemente usados como bioindicadores da saúde do ecossistema devido à sua gordura rica em lipídios, que armazena contaminantes e pode ser amostrada de forma minimamente invasiva em animais vivos.
Como os golfinhos não bebem água do mar, acredita-se que esses predadores de topo adquiriram os produtos químicos através de sua dieta ou os absorveram pela pele. Amostras de tecido contaminado com drogas foram coletadas de golfinhos vivos em 2013, sugerindo que essa contaminação vem ocorrendo há algum tempo. Um golfinho morto na Baía de Baffin, no sul do Texas, foi encontrado a menos de um ano da maior apreensão de fentanil líquido da história dos EUA, em um condado vizinho. Quarenta por cento das detecções de fármacos foram em golfinhos do Mississippi, o que leva a crer que se trata de um problema de longa data no ambiente marinho.
Mais de um quarto dos rios do planeta contêm fármacos em níveis superiores aos considerados seguros para organismos aquáticos, contribuindo para as concentrações de poluentes nos ambientes marinhos. Embora o impacto ecológico de traços de fármacos ainda não tenha sido medido diretamente, sua presença se soma a outros problemas causados pelo homem, como plásticos, derramamentos químicos, dragagem, tráfego de navios, poluição sonora e mudanças climáticas. Em 2021, constatou-se que os golfinhos do Golfo do México sofriam consequências contínuas para a saúde e reprodução devido aos impactos desastrosos do derramamento de petróleo da BP em Deepwater Horizon, em 2010.
A exposição crônica a inúmeros fatores de estresse ambiental pode comprometer os sistemas imunológicos de golfinhos e baleias, impactando sua saúde, causando problemas reprodutivos ou levando à morte. A Dra. Orbach destaca a necessidade de estudos em larga escala para avaliar a extensão e as fontes de contaminação. "A exposição crônica a produtos farmacêuticos e seus efeitos cumulativos em mamíferos marinhos ainda não são totalmente compreendidos, mas sua presença em três populações de golfinhos em todo o Golfo do México destaca a necessidade de estudos em larga escala para avaliar a extensão e as fontes de contaminação", afirma a pesquisadora.
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