O ex-presidente Jair Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal (PF) por sua participação direta em uma tentativa de golpe de Estado em 2022. A informação consta em um relatório que também indiciou outras 36 pessoas, e que teve o sigilo quebrado pelo Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira, 26 de novembro de 2024.
Segundo a PF, Bolsonaro não apenas tinha conhecimento do plano, mas atuou de forma “direta e efetiva“ em sua execução. O relatório da PF afirma: “Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de estado e da abolição do estado democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade.”
A investigação da PF apontou a existência do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que visava o sequestro ou assassinato do Ministro Alexandre de Moraes, do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Vice-Presidente Geraldo Alckmin. O relatório indica que Bolsonaro estava ciente do plano, recebendo relatórios diretamente ou através de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. “Há também nos autos relevantes e robustos elementos de prova que demonstram que o planejamento e o andamento dos atos eram reportados a Jair Bolsonaro, diretamente ou por intermédio de Mauro Cid. As evidências colhidas, tais como os registros de entrada e saída de visitantes do Palácio do Alvorada, conteúdo de diálogos entre interlocutores de seu núcleo próximo, análise de ERBs [torres de celular], datas e locais de reuniões, indicam que Jair Bolsonaro tinha pleno conhecimento do planejamento operacional (Punhal Verde e Amarelo), bem como das ações clandestinas praticadas sob o codinome Copa 2022“, destaca a PF.
A PF concluiu que a tentativa de golpe não foi bem-sucedida devido à resistência do alto comando das Forças Armadas. “Destaca-se a resistência dos comandantes da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Baptista Junior, e do Exército, general Freire Gomes e da maioria do alto comando que permaneceram fiéis à defesa do Estado Democrático de Direito, não dando o suporte armado para que o então presidente da República consumasse o golpe de Estado“, afirma o documento.
Em coletiva de imprensa no dia 25 de novembro de 2024, Bolsonaro negou as acusações, declarando: “nunca discutiu golpe com ninguém“ e que todas as suas ações foram tomadas “dentro das quatro linhas da Constituição“.
A decisão de Alexandre de Moraes em retirar o sigilo do inquérito permite acesso público a mais detalhes sobre a investigação e as evidências apresentadas pela Polícia Federal. A delação de Mauro Cid, porém, permanece sob sigilo, conforme decisão do ministro.
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