O caminho para conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos é longo, mas não impossível para aqueles que sonham. E a jornada para aqueles que desejam chegar ao pódio, começa muito antes da famosa cerimônia de abertura quando o fogo olímpico anuncia o início da maior competição multiesportiva do mundo. O atleta natalense de remo, Luiz Felipe Silva, é um dos que sonham com uma vaga no mundial e já está se preparando com afinco para o evento que será realizado em Tóquio, no Japão, em 2020.
Aos 28 anos, Luiz faz parte – desde o início de 2018 – da equipe do Clube de Regatas do Flamengo, no Rio de Janeiro, o maior Centro de Treinamento do Brasil. O Flamengo tem dado todo suporte para uma classificação olímpica. No dia 13 de março, ele se dirigiu para São Paulo com a equipe para participar da seletiva nacional para competições internacionais. Apesar deste não ser considerado um ano tão importante, o remador explica que é um período de construção para, em 2019, se classificar para os Jogos Pan-Americanos e, no ano seguinte, para as Olimpíadas no Japão.
Treinado pelo francês Stéphane Durand e acompanhado pelo diretor-técnico e também treinador da Seleção Brasileira, Marcelo Varrieli, o atleta acredita que está sendo bem orientado, mas a corrida pela vaga olímpica tem sido concorrida. “A rotina de treino é dura, treino nos dois turnos, manhã e tarde. Alguns dias, são dois treinos pela manhã e mais um à tarde”, relata.
Natural de Natal, ele iniciou a carreira no Sport Club e fala da importância do esporte em sua vida e deseja que outros jovens, que hoje vivem em um ambiente de risco, tenham a oportunidade de formação pessoal que o remo lhe proporcionou. “O esporte foi um divisor de águas na minha vida, pois venho de um local onde a cultura de ilegalidade predomina e o sujeito, enquanto produto do meio, precisa de políticas públicas que contribuam para seu crescimento pessoal e intelectual”, argumenta. Ele acrescenta que uma série de valores morais e éticos são extraídos diariamente durante a rotina de treino e o Sport atende jovens de comunidades como Passo da Pátria, Rocas, Santos Reis e Brasília Teimosa. “Eles vivem em ambiente de risco e o esporte é um aliado na formação pessoal”.
VITÓRIAS
O atleta pratica o esporte desde os 12 anos de idade. Tudo começou quando, aos 8 anos, ele assistiu os treinos do tio Onaldo Gomes da Conceição que foi quem lhe apresentou a modalidade. No início, o remo era mais lúdico, recreativo, mas aos 14 anos, a coisa ficou séria. “Escolhi aquilo para mim. Mas meu tio falou que só permitiria que eu continuasse, se eu treinasse para ser campeão, pois o treinador, Geraldo Belo Moreno, hoje já falecido, era muito exigente. Daí eu continuei treinando firme e almejando resultados a níveis locais e regionais”, conta.
Em 2007, com 17 anos, Luiz Felipe foi campeão Norte-Nordeste na categoria adulta. No ano seguinte, ele recebeu a convocação para a Seleção Brasileira de Remo e passou 40 dias treinando em Saquarema (RJ) para a Regata Internacional de Harvard. O atleta ficou como reserva e acabou não indo para a competição nos Estados Unidos, fato que não abalou suas expectativas. “Me mostrou que era possível sonhar com uma classificação Internacional, mesmo treinando em Natal com tão pouco, tendo o mínimo. Era apoiado pelo treinador que, além de um técnico, era um patrocinador e pai”.
Quando Geraldo Belo Moreno faleceu, o remador recebeu uma proposta para fazer parte da equipe do Botafogo de Futebol e Regatas e aceitou. Nesse período, Silva foi campeão brasileiro e oitavo do mundo na Lituânia. Apesar dos bons resultados, ele resolveu voltar a Natal para estudar. “Foi uma escolha minha, o que iria interferir em rendimentos de excelência, já que em Natal não tinha toda estrutura necessária, mas uma vida paralela também era importante. Daí fiz o Curso de Educação Física”. Luiz concluiu a Graduação em 2016 pela UnP – integrante da rede Laureate, e em 2018, voltou para o Rio de Janeiro fechando com o Flamengo.
ESFORÇO
Para ele, a formação acadêmica tem sido uma aliada no controle de treino, recuperação e até orientação da base, já que ele tem ajudado na captação de escolares. A equipe é composta por mais de 50 atletas, pensando no futuro. “Isso é fundamental quando se pensa em uma cultura de rendimento e compromisso com o resultado”, afirma.
Além do treino físico, o atleta conta que é um desafio estar longe da família. Antes de ser integrado definitivamente ao Flamengo, Luiz realizou treinos no Clube durante o mês de janeiro. Em fevereiro, Luiz voltou a Natal e passou o carnaval inteiro treinando, de domingo a domingo. Foi quando ele recebeu a proposta de voltar ao Rio em definitivo. “Ficar longe de família, esposa, pessoas que amo, é muito difícil. Mas minha família apoiou e minha esposa está comigo na luta. Não é fácil. Acompanhar quando se está no pódio é moleza, mas a trajetória e sacrifícios são duros. Diversas vezes já chorei debaixo de chuveiro de dor muscular e psicológica: saudade de casa”.
Apesar dos obstáculos e dos riscos de não alcançar a classificação, Luiz Felipe afirma que estará feliz por ter tentado. “O que não quero é ter um questionamento na minha cabeça, ficar me perguntando se poderia ter dado certo. Com os percalços da vida, mudei meu caminho, mas o amor ao sonho me trouxe de volta”.
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