Empresas do Reino Unido, EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia estão em teste e processo de implementação da semana de quatro dias de trabalho, assim como Portugal, que também está mapeando e estudando esse novo modelo de trabalho. Já no Brasil, algumas empresas vêm especulando e avaliando também, mas ainda com alguns tabus a serem quebrados pelas companhias em relação a redução de jornada.
Mudanças na rotina, estudos e mercado de trabalho estão cada vez maiores desde a chegada da pandemia da Covid-19, e um dos grandes pontos levantados neste período é a importância do bem-estar e da qualidade de vida acima de tudo.
Visando esse último fator, a redução para quatro dias de trabalho viralizou na mídia como tema necessário. A Profa. Ma. Juliana Saboia, do curso de Administração do Cesuca, cita alguns motivos para haver interesse das empresas em reduzirem a jornada, dentre eles a pandemia. “Já ocorriam movimentos e estudos sobre a diminuição da jornada anteriormente, com exemplos de 2015 e até antes disso. Com a pandemia, passou-se a refletir mais sobre trabalho, vida, significado e importância, além da experiência positiva do home office para a maioria das pessoas, o que levou a questionar a produtividade embasada em controle físico e horas de trabalho.”
“Apesar de ser vista com alguns receios ainda, a redução de jornada tem benefícios para as empresas e para os colaboradores, e aquelas que estão aderindo acabam influenciando a cadeia, o que leva o debate para demais locais e áreas de atuação”, ressalta Juliana.
Os benefícios dos quatro dias de trabalho são inúmeros, considera a docente, sendo a melhoria da qualidade de vida o principal. Juliana destaca que com a redução (que pode ser folga na sexta, na segunda, na quarta ou em qualquer dia que a empresa combinar), há um ajuste nas atividades do dia a dia, possibilitando que a pessoa aproveite mais a vida fora do escritório. Passar mais tempo com a família, praticar atividade física, ir a médicos, passear mais, fazer mais cursos, ir ao cinema ou fazer nada são benefícios que os colaboradores relatam.
“Esse modelo de trabalho ajuda os colaboradores a se sentirem mais produtivos quando estão na empresa, focando melhor nas suas funções e sendo mais gratos por estar em uma empresa que tem tal prática. Em contrapartida, para a companhia há a redução de custos com energia e insumos como papel, café, impressões, melhoria do clima organizacional, aumento de candidatos qualificados nas vagas, redução com absenteísmo e faltas, redução do turnover e aumento de produtividade. Ou seja, todos têm a ganhar”, explica a professora.
Perspectivas dos quatro dias de trabalho no Brasil
Juliana reforça que a prática fora do país é crescente. Há estudos em execução em Portugal e Reino Unido (intitulado Global 4-day Week) e práticas concretas no Japão, Islândia, Canadá, Austrália, Espanha, Nova Zelândia, Dinamarca, Estados Unidos, entre outros.
“No Brasil, ainda está engatinhando, muito pela mentalidade do empresariado, que não tem métricas claras de produtividade, e a faz com base em horas trabalhadas e presencialidade. Contudo, temos empresas em solo brasileiro que colocaram em prática e estão colhendo os frutos. Acredita-se que por aqui ainda tem muito a amadurecer, visto que há discussão sobre a implantação ou não de sistema híbrido, mesmo que os dados mostrem aumento de produtividade e desejo dos colaboradores brasileiros em permanecer nesse formato”, avalia a professora de administração.
Economicamente, o modelo de trabalho reduzido não afeta as empresas e nem o mercado. “Não há dado que demonstre impactos, todas as pesquisas mostram uma melhoria expressiva em aumento de produtividade e redução de custos para as companhias. Claro que tem necessidade de adaptações, principalmente em setores em que se trabalha sete dias, com escalas organizadas. Como qualquer movimento de mudança, entende-se que nem todos os setores poderão atuar nesse formato e que dentro da mesma empresa algumas áreas poderão e outras não. Porém, isso faz parte do mercado, nem todos trabalham e ganham da mesma forma”, enfatiza.
Tendo isso em vista, uma das principais controvérsias é a ideia da perda de produtividade com a redução da jornada de trabalho. Para Juliana, esta não será impactada. E ela exemplifica: as pessoas trabalham da mesma forma há mais de 30 anos, com jornada presencial de 40/44h semanais. “Contudo, a tecnologia mudou muito nesse período e novas formas de trabalho são possíveis, logo, reduzir a jornada não afeta na produtividade se as pessoas forem preparadas para isso e a empresa tiver os processos e as ferramentas necessárias.”
Por fim, a professora de Administração do Cesuca salienta que os quatro dias de trabalho é uma tendência que inclui também as horas. “Há a possibilidade de trabalhar 32 horas semanais e dividir o tempo como se desejar. Se olharmos para o futuro do trabalho, o que mais se fala é a atuação por projetos e entregas, e o que menos se aborda é sobre hora trabalhada, jornada ou local. Para as empresas que querem se manter competitivas e com os melhores talentos, fazer a mudança na mentalidade de encarar o formato do trabalho é urgente”, finaliza.
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