O aumento da taxa Selic para 12,25% ao ano, decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), gerou forte reação negativa de diversos setores da economia brasileira. A decisão, que prevê mais dois aumentos de 1 ponto percentual em janeiro e março de 2025, caso as projeções se confirmem, foi criticada por entidades representativas do setor produtivo, partidos políticos e centrais sindicais.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) definiu a medida como "incompreensível e injustificada", argumentando que a queda da inflação em novembro e o anúncio de um pacote de corte de gastos obrigatórios pelo governo federal tornam o aumento dos juros desnecessário. A entidade destacou que: “Manter o ciclo de alta da Selic iniciado em setembro já configuraria um erro do Banco Central. Intensificar esse ritmo, como a autoridade monetária escolheu, portanto, não faz sentido no atual contexto econômico, marcado pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote efetivo de corte de gastos apresentado pelo governo federal”.
Contrariamente à CNI, a Associação Paulista de Supermercados (Apas) esperava a alta da Selic, acreditando em seu efeito na contenção da inflação, que ultrapassou o teto da meta. Contudo, a Apas reconhece os impactos negativos para produção e consumo, alertando que: “No cenário atual, aumentar os juros, desestimula o investimento e impede a expansão da capacidade produtiva, assim como afeta diretamente o consumo e a demanda agregada, perpetuando os entraves estruturais ao desenvolvimento do país”, segundo seu economista-chefe, Felipe Queiroz.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP), por sua vez, não se manifestou contra a decisão do Copom, considerando-a alinhada às expectativas do mercado financeiro e justificada pelas incertezas econômicas e pela desancoragem das expectativas de inflação. Em nota, a ACSP justificou a postura do Banco Central alegando que: “A aceleração da inflação, que se mantém acima da meta anual, num contexto de nível de atividade e mercado de trabalho ainda aquecidos e expectativas inflacionárias totalmente desancoradas, além do aumento da incerteza no campo fiscal e no setor externo, são fatores que contribuem para manter o câmbio elevado e justificam uma política monetária mais contracionista”.
A deputada Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT, criticou veementemente a decisão, classificando-a como "irresponsável, insana e desastrosa para o país". Segundo a parlamentar, o aumento de 1 ponto percentual na Selic custará cerca de R$ 50 bilhões a mais em dívida pública e não contribuirá para conter a inflação, que, em sua avaliação, não é de demanda. A deputada também apontou uma suposta sabotagem do Banco Central à economia nos dois primeiros anos do governo Lula, atribuindo a culpa a Roberto Campos Neto, presidente do BC.
As centrais sindicais também se posicionaram contra o aumento da Selic. A CUT e a Contraf-CUT criticaram fortemente a decisão, atribuindo ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, uma gestão que resultou em "prejuízos ao país". Juvandia Moreira, presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT, destacou que: “O mercado financeiro está apostando contra o Brasil. É formado por um bando de aproveitadores e sabotadores da nação. Os danos desta política monetária de aperto econômico, praticada a mando do mercado pelo Banco Central, na gestão de Roberto Campos Neto, e com mais intensidade no governo Lula, são irreparáveis ao desenvolvimento do país”. A Força Sindical, por sua vez, considerou o aumento de juros "um remédio errado e desnecessário", cobrando mais sensibilidade do governo em 2025 com políticas sociais e investimentos.
O Copom justificou a alta dos juros pelas incertezas externas e pelos ruídos gerados pelo pacote fiscal do governo. Gabriel Galípolo assumirá a presidência do BC e comandará as próximas reuniões do Copom.
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