O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) anunciou o lançamento do segundo ciclo do edital do projeto Catalisa ICT, voltado para o fomento de deep techs no Brasil. O evento ocorreu durante a 34ª Conferência Anprotec, em São José dos Campos (SP), e contou com a participação de diversas empresas inovadoras.
Mas o que são deep techs? Segundo Paulo Renato Cabral, gerente de inovação do Sebrae, são empresas de alta tecnologia que demandam conhecimento científico profundo em áreas como química, física, biologia, matemática e engenharia. Suas equipes geralmente incluem mestres, doutores e pesquisadores, desenvolvendo produtos e serviços de ponta em áreas como fármacos, computação, robótica e inteligência artificial.
A conferência destacou exemplos de sucesso, como a Lookinside, empresa de telemedicina criada pelo médico Hermílio Carvalho. O aplicativo da Lookinside usa imagens e respostas a perguntas para auxiliar no diagnóstico de pé diabético, ajudando a prevenir amputações. Carvalho explica: “Infelizmente, a gente tem pacientes diabéticos sendo amputados todos os dias no Brasil. E isso é prevenível, às vezes, quando a detecção é precoce. O paciente pode tirar uma foto do próprio pé e responder a algumas perguntas. As imagens chegam a um profissional de saúde que vai avaliar e fornecer um relatório. E a gente está potencializando isso com inteligência artificial para uma avaliação mais ágil”
Outro destaque foi a Biolinker, startup de biologia sintética que produz proteínas, fundada pela Dra. Mona Oliveira. A empresa atua na produção de proteínas para vacinas e diagnósticos, buscando solucionar problemas de suprimento de insumos para o sistema de saúde. Oliveira afirma: “A pandemia levou a um colapso no sistema de saúde e no suprimento de insumos que afetou vacinas e diagnósticos. Porque fazer as proteínas do vírus [que serão usadas como insumos] é difícil. A gente precisa sequenciar [o genoma] e estabelecer o processo de produção em biofábricas. E é exatamente nesse problema que atuamos. Criamos uma plataforma com vários microrganismos e sistemas de produção em que conseguimos produzir a proteína para o nosso cliente de forma rápida e acelerada”
Também foram apresentadas a BioUS, que transforma dejetos agropecuários em biopolímeros, e a Quasar Space, empresa de sensoriamento remoto e monitoramento ambiental por satélite. Raimundo Lima, fundador da BioUS, ressalta os desafios da transição da academia para o empreendedorismo: “Essa migração da academia para o empreendedorismo talvez seja o maior desafio. Você sai da academia, da área de pesquisa e desenvolvimento, e precisa aplicar isso no mercado. E essa aplicação precisa ser rápida. Inovar já é um desafio. Inovar em ciência é um desafio ainda maior”. Já Thais Franco, CEO da Quasar Space, destaca a complexidade de provar a viabilidade tecnológica para clientes: “O que foi mais complexo para a gente [da Quasar] no início foi provar [para os clientes] que era possível fazer o que a gente faz”
Cabral destaca a importância do apoio governamental e a necessidade de integração entre as instituições de fomento à pesquisa, além de melhorias no sistema regulatório. Ele aponta as dificuldades enfrentadas pelas deep techs: “A deep tech é um processo longo. Por exemplo, para eu chegar num fármaco às vezes são cinco, dez anos. Você precisa de um capital adequado, do dinheiro de investidores, de fomento público. Você precisa de equipe especializada, que é difícil de conseguir. E você precisa de alguma instituição ou de parceiros que te acompanhem nessa jornada, que é longa, cara e solitária”.
O edital Catalisa ICT oferece apoio por dois anos a deep techs, auxiliando na validação de tecnologias, estruturação empresarial, captação de investimentos e crescimento. Mais informações sobre o edital podem ser encontradas no site do Sebrae: projeto Catalisa ICT.
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