Economia

Desigualdade salarial: hora de trabalho de brancos vale 67,7% a mais que a de negros

Um novo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 4 de dezembro de 2024, revelou uma profunda disparidade salarial entre trabalhadores brancos e negros no Brasil. A pesquisa, intitulada Síntese de Indicadores Sociais, aponta que a hora trabalhada de um indivíduo branco vale 67,7% a mais do que a de um trabalhador preto ou pardo.

Em termos práticos, enquanto a remuneração média por hora para negros (considerando pretos e pardos) é de R$ 13,70, os brancos recebem, em média, R$ 23. Isso representa uma diferença de 40% a menos para os trabalhadores negros em comparação aos brancos.

Desigualdade em todos os níveis de escolaridade: A disparidade salarial racial se manifesta em todas as faixas de escolaridade. Mesmo entre aqueles sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto, a diferença chega a 30%. A maior diferença é observada entre os trabalhadores com ensino superior completo, onde os brancos recebem 43,2% a mais por hora trabalhada (R$ 40,24 contra R$ 28,11).

Rendimento médio real: O estudo também analisou o rendimento médio real da população. A média salarial geral ficou em R$ 2.979, mas a disparidade é gritante: a média para brancos foi de R$ 3.847, enquanto para negros ficou em R$ 2.264, representando uma diferença de 69,9%. Comparando com dados de 2019 (último ano pré-pandemia), a pesquisadora do IBGE, Denise Guichard Freire, destacou uma redução na desigualdade racial no rendimento (de 74,9% para 69,9%), mas ressaltou que o índice permanece em um patamar “extremamente elevado”.

Segundo a pesquisadora, “Pretos ou pardos normalmente estão inseridos em ocupações que pagam menos, como construção, agropecuária, serviço doméstico; enquanto a população branca normalmente está inserida em ocupações que pagam rendimento maior, como informação e comunicação e administração pública. Essa diferença estrutural que acontece no rendimento médio real permanece.”

Tendência recente: Apesar da diminuição da desigualdade entre 2019 e 2023, a pesquisa mostra um aumento na disparidade salarial entre 2022 e 2023 (de 65% para 69,9%). Freire atribui esse aumento à recuperação do mercado de trabalho, onde “A população branca tem mais facilidade nessa retomada do mercado de trabalho que a população preta ou parda”.

Desigualdade de gênero: A pesquisa também aborda a desigualdade salarial por gênero. Os homens ganham, em média, R$ 3.271, enquanto as mulheres recebem R$ 2.588 (26,4% a menos). Em relação ao valor da hora trabalhada, a diferença é de 12,6%, com os homens recebendo R$ 18,81 e as mulheres R$ 16,70. O IBGE destaca que “Os resultados indicam a existência de desigualdade estrutural, dado que esses diferenciais, salvo pequenas oscilações, foram encontrados em todos os anos de 2012 a 2023”.

Informalidade: A informalidade também contribui para a desigualdade racial. Em 2023, 40,7% da população ocupada estava no mercado informal. No entanto, essa taxa é significativamente maior entre negros (45,8%) do que entre brancos (34,3%). Trabalhadores informais não possuem garantias trabalhistas como férias, contribuição previdenciária e 13º salário.

Subutilização da mão de obra: O IBGE também analisou a subutilização da mão de obra, que inclui desempregados, sub-empregados e aqueles que desejam trabalhar, mas não buscam ativamente emprego. A taxa geral foi de 18%, sendo 13,5% para brancos e 21,3% para pretos e pardos. A diferença também é significativa entre homens (14,4%) e mulheres (22,4%).

Trabalho doméstico não remunerado: A pesquisa mostra ainda que o nível de ocupação da população brasileira em 2023 foi de 57,6%, sendo 20 pontos percentuais maior para homens (67,9%) que para mulheres (47,9%). Denise Freire explica que essa disparidade “O nível de ocupação tende a ser menor para as mulheres do que para os homens apesar da maior escolaridade das mulheres, por conta do trabalho não remunerado: dedicação ao trabalho doméstico e aos cuidados com parentes etc.”. A questão da remuneração do cuidado familiar foi discutida durante as reuniões preparatórias para a reunião do G20 em novembro, no Rio de Janeiro.

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Brunna Mendes

Gestão Hospitalar (UFRN), 28 primaveras, sagitariana e apaixonada por uma boa leitura, séries, filmes e Netflix.

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