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Decisão da Caixa de reduzir financiamento ameaça o mercado imobiliário e geração de empregos

Fenae alerta para os impactos negativos da medida e ressalta a importância de o governo garantir novas fontes de recursos para manter o banco forte e competitivo no setor.

A decisão da Caixa Econômica Federal em reduzir a cota de financiamento habitacional para imóveis de até R$ 1,5 milhão, e exigindo um valor de entrada maior dos compradores, tem causado preocupação na Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa). Segundo a entidade, a medida pode não só prejudicar o banco em termos de competitividade, mas também causar uma desaceleração do mercado imobiliário, o que impactaria diretamente a geração de empregos no setor.

Para o presidente da Fenae, Sergio Takemoto, a principal preocupação é que a redução da cota exigida para o financiamento pode resultar em menos contratos fechados. “Muitos brasileiros que dependem de financiamento habitacional para adquirir seu imóvel não terão condições de arcar com a entrada maior exigida. Isso significa menos imóveis vendidos, o que desacelera o mercado imobiliário e afeta diretamente a geração de empregos em um setor que estava começando a se recuperar e aquecer novamente“, explica Takemoto.

Um levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), encomendado pela Fenae, revela que a escassez de funding para o crédito imobiliário foi um dos motivos que levaram a Caixa a adotar essa medida, com o saldo da poupança – principal fonte de recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) – registrando déficits consecutivos desde 2021.

Em 2021, o saldo da caderneta de poupança totalizou R$ 35,5 bilhões negativos; em 2022, R$ 103,2 bilhões negativos e, em 2023, R$ 87,8 bilhões negativos. Até setembro de 2024, a caderneta de poupança acumula um saldo negativo de R$ 11,2 bilhões no ano. No mês de setembro de 2024, foi registrado um saldo negativo de R$ 7,1 bilhões, já que os depósitos (R$ 344,9 bilhões) não foram suficientes para cobrir os saques (R$ 352,1 bilhões).

A Fenae defende que, para evitar uma desaceleração econômica e proteger o papel da Caixa no mercado habitacional, é fundamental que o governo encontre novas fontes de recursos que permitam ao banco manter sua capacidade de oferta de crédito, sem comprometer o acesso à moradia e o desenvolvimento do setor imobiliário.

A escassez de recursos compromete a capacidade da Caixa de ampliar sua oferta de crédito. É crucial que o governo viabilize novas fontes de funding para que o banco continue exercendo seu papel no financiamento habitacional. A Caixa não pode perder seu protagonismo no setor imobiliário. Para isso, é fundamental que sejam encontradas novas fontes de recurso, evitando que a escassez comprometa o acesso à moradia e a função social do banco“, reforça Takemoto.

Além disso, a Caixa já financiou R$ 175 bilhões em crédito imobiliário nos primeiros nove meses de 2024, um crescimento de 28,6% em relação ao mesmo período de 2023. Esse ritmo elevado de concessões pode fazer o banco ultrapassar o orçamento aprovado para o ano. A carteira de crédito imobiliário da Caixa cresceu 171,18% nos últimos dez anos, passando de R$ 270,4 bilhões em 2013 para R$ 733,3 bilhões em 2023. Em junho de 2024, esta carteira havia alcançado R$ 777,5 bilhões.

A Caixa segue sendo a principal fonte de crédito habitacional no Brasil, detendo 69,61% do saldo total de financiamentos imobiliários em julho de 2024. Essa porcentagem variou entre 68,27% e 72,65% nos últimos dez anos, ou seja, sempre representando mais de dois terços do total de crédito imobiliário do país.

Perda de competitividade

Financiamento de imoveis pela Caixa exige entrada maior a partir de novembro
Caixa muda regras de financiamento: entrada mínima sobe para 50% – © Marcello Casal JrAgência Brasil

Com a mudança, a Caixa passou a oferecer a menor cota de financiamento entre os principais bancos do mercado. Enquanto Itaú Unibanco financia até 90% do valor dos imóveis, Bradesco, Santander e Banco do Brasil financiam até 80%, e o banco Inter oferece uma cota de 75%, maior que os 70% aplicados pela Caixa. Isso coloca o banco público em desvantagem competitiva, especialmente para clientes que precisam financiar uma parcela maior do imóvel e que não possuem recursos suficientes para cobrir a diferença. “Eles acabam tendo que pagar taxas mais altas nos concorrentes”, completa Takemoto.

De acordo com o levantamento do Dieese, mais um motivo para a mudança é a taxa de juros elevada nos bancos privados. As linhas de financiamento da Caixa são mais procuradas por oferecem taxas mais baixas. Em setembro de 2024, a taxa de juros anual de financiamento imobiliário com taxas reguladas estava em 7,62% na Caixa, enquanto Itaú, Bradesco e Santander tiveram taxas de 10,43%, 10,44% e 11,25%, respectivamente.

Para o presidente da Fenae, Sergio Takemoto, essa decisão poderá, ainda, ameaçar o papel fundamental da Caixa no mercado imobiliário brasileiro. “A Caixa é a principal força motriz do crédito imobiliário no Brasil, respondendo por com cerca de 70% do mercado. Com essa redução na cota de financiamento, haverá uma diminuição no número de imóveis vendidos, pois muitos brasileiros não terão como complementar os 10% a mais exigidos. Isso não apenas desacelera o mercado imobiliário, mas também pode afetar a geração de empregos no setor, o que é preocupante em um momento em que o país ainda busca se recuperar economicamente“, afirma.

Fabiana Uehara, representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, também alerta para os efeitos que a mudança pode ter sobre outros negócios do banco. “A concessão de crédito imobiliário é um motor para várias outras operações da Caixa. Com menos financiamentos, haverá menos abertura de contas, menor oferta de produtos como seguros e previdência privada e uma possível redução nas metas da rede de agências. Precisamos garantir que essa mudança não penalize os empregados, que já enfrentam desafios enormes para alcançar suas metas“, explica Fabiana.

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Rafael Nicácio

Co-fundador e redator do Portal N10, sou responsável pela administração e produção de conteúdo do site, consolidando mais de uma década de experiência em comunicação digital. Minha trajetória inclui passagens por assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (ASCOM) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde atuei como estagiário.Desde 2013, trabalho diretamente com gestão de sites, colaborando na construção de portais de notícias e entretenimento. Atualmente, além de minhas atividades no Portal N10, também gerencio a página Dinastia Nerd, voltada para o público geek e de cultura pop.MTB Jornalista 0002472/RNE-mail para contato: rafael@oportaln10.com.br

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