Nada é tão perfeito que não possa ser melhorado. O sucesso do passado pode gerar fracasso no futuro, se a pessoa acreditar que ele será para sempre. Em meio a essa pandemia do novo coronavírus, estamos tendo ainda mais provas disso. Afinal de contas, nenhum país, cientista ou estudioso jamais imaginaram que o mundo pararia e que os impactos seriam desastrosos no meio corporativo. Sendo assim, qualquer profissional precisa se policiar quanto ao ego, pois é algo que pode impedir uma visão mais estratégica e, consequentemente, arruinar sua carreira.
O renomado escritor austríaco Peter Drucker disse, em um certo momento, que o planejamento não se refere a lidar com decisões do futuro, mas com o futuro das decisões tomadas no presente. Quer dizer que uma série de definições e ações equivocadas das lideranças, hoje, podem levar uma empresa, por maior e mais consolidada que seja, à falência. Além disso, a miopia estratégica e a demora ou recusa em implementar mudanças também são responsáveis por muitos problemas nas companhias. Talvez, por isso, poder de decisão e maturidade sejam competências e habilidades (as conhecidas soft skills) cada vez mais necessárias no ambiente organizacional.
Nesse contexto, é importante entender que, quando o ego faz a pessoa ter autoconfiança e valorizar o seu potencial, ele pode ser positivo. No entanto, se ofusca a visão de um profissional, que se sente o melhor dos melhores, provavelmente acabará com sua capacidade de trabalhar em equipe e ter uma escuta ativa, aspectos essenciais nos dias atuais. Usualmente, quem tem ego inflado se acha o dono da verdade e, consequentemente, torna-se prepotente e arrogante. Vários indivíduos com “síndrome do sucesso” destroem as próprias carreiras, simplesmente por não se preocuparem com a imagem que está sendo gerada.
Por isso, humildade é sempre importante em todos os momentos, uma vez que a maneira como o colaborador é percebido por líderes, pares e liderados afeta diretamente sua reputação, sua credibilidade e sua empregabilidade. Sem falar que é extremamente desgastante trabalhar com pessoas com “ego forte”, ou seja, vaidosas, egoístas, que necessitam expor excessivamente as vitórias, os bons resultados e os esforços individuais, tendo como combustível apenas a admiração e o reconhecimento. Em busca de gestões cada vez mais humanizadas, as empresas estão atentas a esse tipo de comportamento e tendem a expurgar esses profissionais tóxicos.
Além disso, se engana quem pensa que administrar o ego valha apenas para quem está trabalhando dentro das organizações. Aqueles que buscam um novo emprego também devem ter atenção a esse ponto. Quando headhunters estão à procura de talentos, por exemplo, é muito comum encontrar candidatos com ego inflado, acreditando estarem posicionados com um bom salário e subestimarem a abordagem, sem sequer saberem que o pacote ofertado pela outra empresa é literalmente o dobro do que ganham hoje. Assim, é fundamental lembrar que o “jogo corporativo” não é mais o mesmo: estruturas pequenas podem pagar remunerações até maiores do que as multinacionais. Evidentemente, nem tudo se trata de dinheiro e envolve, ainda, o propósito da posição.
Todavia, ser capaz de ouvir, de se posicionar e de gerar uma imagem de credibilidade frente aos recrutadores é essencial para o profissional que quer alcançar destaque na carreira. O que não quer dizer, claro, que, em toda ligação de um headhunter, a pessoa irá mudar de emprego. Porém, quando menos esperar e mantendo as portas abertas, aquela oportunidade dos sonhos pode chegar. Então, é importante não deixar que o ego seja o motivo para impedir isso. E, ao decidir participar de um processo seletivo, ser solícito, empático e disponível, para deixar uma boa marca.
Nesse aspecto, o autoconhecimento é vital, pois quanto mais a pessoa entende as próprias emoções, mais consciente se torna em relação ao que impulsiona suas atitudes ou a coloca na defensiva. Desse modo, é possível ficar menos refém das “armadilhas” do ego. Profissionais de sucesso já sabem que impor sua personalidade, em exagero, pode ser nocivo em diversos aspectos. Na tentativa de conseguir aprovação e reconhecimento ou solucionar carências e inseguranças, eles podem tomar atitudes equivocadas.
Portanto, em tempos de discussão sobre legado, é sempre necessário refletir sobre o que deixaremos quando não mais estivermos na posição ou na empresa em questão. Assim, é preciso ter “jogo de cintura” para lidar com o próprio ego, pois, em excesso, provoca péssimos resultados, e não há mais espaço para apostar em confiança exacerbada ou falsa modéstia como estratégias de marca pessoal. Seja o profissional vinculado a uma empresa, seja autônomo, prestador de serviços ou concursado, garantir uma imagem pessoal positiva é o que abre caminhos. Ao contrário, colocar o ego em ação poderá ser a ruína da carreira, pois de nada vale ter MBA em Harvard, se o indivíduo é arrogante. Como diz a famosa frase: “O pavão de hoje pode ser o espanador de amanhã”.
Artigo especial escrito por David Braga – que é CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent*
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