Uma pesquisa recente sugere que guerreiros germânicos da Era Romana utilizavam pequenas colheres para administrar estimulantes durante as batalhas. A descoberta, publicada na Praehistorische Zeitschrift, revira a compreensão tradicional sobre o uso de drogas em culturas fora do Império Romano.
Arqueólogos e biólogos da Universidade Maria Curie-Skłodowska, na Polônia, analisaram 241 utensílios em formato de colher encontrados em sítios funerários da Escandinávia, Alemanha e Polônia. Esses objetos, com cabos de 4 a 7 centímetros e uma concavidade de 1 a 2 centímetros de diâmetro, eram frequentemente anexados aos cintos dos guerreiros, sem desempenhar função na utilidade do cinto em si.
A localização dos artefatos é significativa. Eles foram encontrados em locais de sacrifícios associados à guerra, ou em conjunto com armas, sugerindo uma forte ligação com o contexto bélico. Segundo os pesquisadores, Anna Jarosz-Wilkołazka, Anna Rysiak e Andrzej Jan Kokowski, a presença das colheres em contextos militares aponta para o uso de estimulantes pelos guerreiros.
“Isso”, escrevem os pesquisadores em seu artigo, “permite que se apresente a tese de que este utensílio era parte comum da armadura de um guerreiro, e a partir daí é próximo a concluir que a estimulação farmacológica de guerreiros frente ao estresse e ao esforço era a ordem do dia.”
Embora o uso de drogas como o ópio seja bem documentado na Grécia e em Roma, a utilização de narcóticos e estimulantes em outras culturas antigas permanece pouco estudada. Acreditava-se, até então, que o álcool era a principal substância usada pelos chamados “bárbaros”, ao menos até períodos posteriores da história, como indica esta pesquisa.
A equipe investigou várias plantas que poderiam ter sido usadas como estimulantes, incluindo fungos, papoula do ópio, lúpulo, cânhamo, meimendro e solanáceas como beladona e estramônio. Apesar da variedade de plantas com propriedades estimulantes disponíveis, a identificação precisa da(s) substância(s) usada(s) ainda é um desafio, dado o tempo transcorrido.
A equipe destaca a importância do estudo para a compreensão da vida dos nossos ancestrais. “Parece que a consciência dos efeitos de vários tipos de preparações naturais no corpo humano implicava conhecimento de sua ocorrência, métodos de aplicação”, escrevem os pesquisadores, “e o desejo de usar conscientemente essa riqueza para fins medicinais e rituais.”
O estudo destaca o uso de estimulantes em conflitos militares ao longo da história. Como exemplos, são citados o uso de cocaína na Primeira Guerra Mundial, a utilização de anfetaminas e metanfetaminas por forças Aliadas e do Eixo na Segunda Guerra Mundial, e a distribuição de 225 milhões de pílulas estimulantes, incluindo Dexedrina, para as tropas americanas na Guerra do Vietnã (entre 1966 e 1969). Há até mesmo relatos recentes sobre o uso de anfetaminas por soldados russos na guerra na Ucrânia.
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