Pesquisadores da Universidade de Gothenburg demonstraram, pela primeira vez, a capacidade do cérebro de caranguejos-da-costa (Carcinus maenas) de processar a dor de maneira complexa, reagindo à intensidade e localização do estímulo nocivo.
Utilizando um método semelhante a um eletroencefalograma (EEG), com eletrodos posicionados em suas carapaças, os cientistas monitoraram a atividade nervosa dos caranguejos submetidos a testes de dor, padrão para vertebrados e peixes. Estímulos químicos, com vinagre de diferentes concentrações de acidez aplicado em tecidos moles, e estímulos mecânicos, com toques, foram utilizados.
O experimento revelou uma correlação direta entre a intensidade do estímulo e a resposta do sistema nervoso central dos caranguejos. Soluções de vinagre mais ácidas geraram maior atividade cerebral, enquanto os estímulos mecânicos causaram uma resposta de amplitude ainda maior, ainda que com um padrão de codificação diferente. A análise da atividade cerebral permitiu aos pesquisadores distinguir entre estímulos químicos e mecânicos.
Embora a natureza exata da resposta ao estímulo mecânico – toque ou dor – ainda necessite de investigação adicional, o estudo representa um avanço significativo na compreensão da capacidade de processamento sensorial em crustáceos. Ele fornece evidências eletrofisiológicas de respostas semelhantes à dor em um crustáceo vivo, abrindo a possibilidade de que essas criaturas experimentem dor de forma consciente.
Lynne Sneddon, zoofisiologista da Universidade de Gothenburg, defende que:
“Precisamos encontrar maneiras menos dolorosas de matar mariscos se quisermos continuar comendo-os, porque agora temos evidências científicas de que eles sentem e reagem à dor.”
Esta descoberta tem implicações éticas significativas para o tratamento de crustáceos, principalmente em métodos de abate para consumo humano. A pesquisa anterior, como um estudo de 2024 que observou sinais de ansiedade em caranguejos-da-costa submetidos a choques elétricos e luzes brilhantes (estudo), já sugeria a possibilidade de experiência de dor nestes animais. No entanto, a interpretação desses resultados era debatida, pois mesmo animais com sistemas nervosos básicos podem exibir respostas a estímulos nocivos como reflexos.
O estudo atual, publicado na revista Biology (artigo), diferencia-se por demonstrar o processamento central da informação nocéptiva no cérebro dos caranguejos, indicando um nível de processamento cognitivo além de simples reflexos. Imagens que ilustram os pontos de aplicação dos estímulos e o sistema nervoso do caranguejo-da-costa foram incluídas no artigo original.
Eleftherios Kasiouras, biólogo da Universidade de Gothenburg, afirma:
“É um dado adquirido que todos os animais precisam de algum tipo de sistema de dor para lidar com a falta de perigo. Não acho que precisamos testar todas as espécies de crustáceos, pois eles têm uma estrutura semelhante e, portanto, sistemas nervosos semelhantes. Podemos assumir que camarões, lagostins e lagostas também podem enviar sinais externos sobre estímulos dolorosos para seus cérebros, que processarão essas informações.”
Os autores esperam que seus achados contribuam para o desenvolvimento de práticas que garantam o bem-estar animal, minimizando o sofrimento durante o manuseio e abate de crustáceos.
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