Dormir é perda de tempo? De acordo com uma nova descoberta científica, dormir é necessário e o sono REM (o sono em que sonhamos) é essencial, para “esculpir” as nossas memórias e consolidar o aprendizado no cérebro. O estudo foi publicado na revista “Neurobiology of Learning and Memory”. Entre seus autores estão Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e Koichi Sameshima, do Hospital Sírio-Libanês e da Universidade de São Paulo (USP).
Além de ser importante para o repouso do corpo, o sono é crucial para a reativação, a consolidação e a reestruturação das memórias recentemente adquiridas. “Uma comparação entre diversas espécies de mamíferos mostra que a abundância do sono é típica de animais que ocupam o topo da cadeia alimentar”, explica Sidarta Ribeiro.
A descoberta principal da pesquisa do Instituto do Cérebro da UFRN foi a ativação de diversos fatores moleculares, envolvidos no fortalecimento e enfraquecimento das conexões sinápticas, ligações entre os neurônios, durante o sono REM. O neurocientista esclarece que “isso faz com que o sono promova uma espécie de ‘entalhamento’ das memórias em nosso cérebro, perenizando certas conexões sinápticas em detrimento de outras”.
Pesquisa
Para a realização do experimento, ratos foram submetidos a quatro objetos desconhecidos por eles – tubinho com cereais, escova, bola de golfe e um ouriço artificial -, por 60 minutos, a fim de estimular no animal a formação de novas memórias sobre a experiência. O mesmo foi feito com um grupo controle que não tinha sido exposto aos objetos novos.
Após uma hora, os animais puderam dormir e chegar ao sono REM. Tal observação só foi possível com a instalação de eletrodos no cérebro dos ratos. Nos trinta minutos seguintes, os cientistas observaram o padrão de ativação cerebral dos genes em questão.
Observou-se que animais expostos sequencialmente a objetos novos e depois ao sono tiveram uma ativação maior dos genes que formam as sinapses ou as conexões entre os neurônios, trazendo um indicativo de que durante os sonhos as memórias são construídas no cérebro.
Os pesquisadores também verificaram a ativação simultânea de dois grupos de genes, um que fortalece ligações entre os neurônios, e outro que ocasiona o desligamento desse processo. “Os resultados apoiam a teoria de que as memórias são esculpidas na matriz sináptica pela ocorrência conjunta do fortalecimento e enfraquecimento das sinapses”, conclui o pesquisador.
Williane Silva (AGECOM/UFRN) *
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