Uma imensa cordilheira submarina, com mais de 5.000 quilômetros de extensão – maior que as Montanhas Rochosas da América do Norte – encontra-se escondida nas profundezas do Oceano Índico. Um novo estudo publicado em Nature Communications revela a surpreendente formação da Ninetyeast Ridge, ocorrida entre 43 e 83 milhões de anos atrás.
A formação de montanhas submarinas, ou seamounts, geralmente é atribuída a ‘hotspots’ – regiões de intenso calor no interior da Terra – que derretem o manto, liberando plumas de magma em forma de coluna. Inicialmente, acreditava-se que esses hotspots eram estacionários, e a formação de cadeias vulcânicas submarinas seria resultado do movimento das placas tectônicas sobre eles. A analogia utilizada era de uma máquina de costura invertida, onde uma ‘agulha’ de material quente perfura um tecido (a placa tectônica) que se move sobre ela.
No entanto, a Ninetyeast Ridge apresenta um mecanismo de formação diferente. A pesquisa sugere que, neste caso, o hotspot se comportou como uma caneta-tinteiro, com sua ‘ponta’ em movimento depositando magma na superfície terrestre. Segundo o geocientista Hugo Olierook, da Universidade Curtin, na Austrália: “Unlike most volcanic hotspots that remain stationary in the mantle and create volcanic trails as tectonic plates drift over them, this study found that the hotspot responsible for the Ninetyeast Ridge moved by several hundred kilometres within the mantle over time.” Essa mobilidade de hotspots é considerada comum, mas difícil de comprovar, tendo sido documentada apenas em alguns casos no Oceano Pacífico. Esta é a primeira vez que tal fenômeno é documentado no Oceano Índico.
O hotspot Kerguelen é o responsável pela criação dessa cicatriz vertical subaquática. Estudos anteriores, embora inconclusivos, sugeriam um possível movimento desse hotspot para o sul ou oeste ao longo do tempo. Pesquisadores da Austrália, Suécia, China e EUA analisaram amostras de basalto da Ninetyeast Ridge para confirmar essa hipótese.
As análises indicam que a pluma do manto Kerguelen se formou quando a placa Indiana começou a se mover para o norte, abrindo o Oceano Índico. Se o hotspot Kerguelen tivesse permanecido fixo abaixo da placa Indiana, a cordilheira teria se movido para o norte na mesma velocidade da expansão do assoalho oceânico. Entretanto, a datação radioisotópica sugere que, entre 83 e 66 milhões de anos atrás, os picos da cordilheira foram criados aproximadamente à metade da velocidade da expansão do assoalho oceânico. Isso significa, como afirma a equipe internacional de pesquisadores liderada por Qiang Jiang da China University of Petroleum: “the Kerguelen hotspot was not fixed beneath the Indian Plate.”
A equipe argumenta que o cenário mais provável é que a pluma do manto tenha sido capturada pela dorsal meso-oceânica Índico-Antártica em migração para o norte, e os materiais da pluma fluíram continuamente em direção à dorsal e entraram em erupção na crista. Por volta de 66 milhões de anos atrás, a pluma foi ‘desconectada’ quando a dorsal começou a se afastar demais. Mais tarde, a pluma foi temporariamente capturada novamente, desta vez pela dorsal oeste. Por volta de 42 milhões de anos atrás, o hotspot havia traçado uma linha vertical que agora separa o Oceano Índico em leste e oeste.
Segundo o cientista da terra Fred Jourdan, da Universidade Curtin, “For years, rough age estimates of the Ninetyeast Ridge have been used to construct models of how Earth’s tectonic plates moved and reconfigured.” Com a datação de alta precisão, os modelos de movimentação das placas tectônicas podem ser significativamente refinados, proporcionando melhores insights sobre os movimentos continentais antigos.
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