A comunidade médica tem se dedicado, cada vez mais, a informar e conscientizar a sociedade sobre o câncer colorretal. A doença – também conhecida como câncer do intestino – acomete o cólon e o reto. Para o triênio 2020-22, a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostra 20.540 novos casos da doença em homens e 20.470 em mulheres, a cada ano.
O câncer colorretal é tratável e, na maioria dos casos, curável, se detectado precocemente. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer Americano (SEER – Surveillance, epidemiology, and end results), que rastreia as taxas de sobrevida em cinco anos para o câncer de cólon e reto, a taxa de sobrevida de pacientes com diagnóstico precoce chega a 90%, caindo para 70% em casos mais avançados e para 15% em pacientes com metástase. Grande parte desses tumores se inicia a partir de pólipos, lesões benignas que podem crescer na parede interna do intestino grosso.
O Dr. Sidney Klajner, cirurgião do aparelho digestivo, coloproctologista e presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, explica que, apesar de a incidência deste tipo de tumor ser mais frequente na população acima dos 50 anos, casos em pacientes mais jovens vêm sendo cada vez mais frequentes nos consultórios.
“Um estudo divulgado em 2017 pela Sociedade Americana de Câncer revelou que o número de casos de tumor colorretal já estava aumentando entre adultos jovens. Em pacientes de 20 a 39 anos, para se ter uma ideia, a taxa de incidência de câncer de intestino vinha crescendo entre 1% e 2,4% anualmente desde a década de 1980”.
Segundo o especialista, de lá para cá, sobretudo em decorrência dos hábitos da vida moderna, essa curva continua em crescimento. “Cada vez mais a população se afasta dos hábitos saudáveis, apresentando piora na qualidade da dieta, aumento das taxas de obesidade e diminuição da prática de atividade física. O tabagismo e o consumo de álcool também estão associados a este tipo de tumor”, relembra.
Para que a alta dos números do câncer colorretal seja revertida ao longo dos próximos anos é necessário focar em prevenção – tanto primária, com a adoção de hábitos saudáveis, como secundária, com o rastreamento da doença. O médico da atenção primária entra como peça-chave nesse contexto.
O Dr. Sergio Eduardo Alonso Araujo, médico coloproctologista, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e diretor médico do Centro de Oncologia e Hematologia Einstein Família Dayan – Daycoval, observa que, no cenário atual, o homem, especialmente a partir dos 45 anos, faz um acompanhamento anual com o urologista, e a mulher com o ginecologista, mas, em geral, não costumam se submeter a avaliações do intestino. “A repetição anual do exame de sangue oculto nas fezes, indicado a partir 45 anos àqueles que não tem histórico de pólipos ou câncer de intestino na família, é fundamental para o diagnóstico precoce e início aos cuidados”. O exame de sangue oculto nas fezes avalia a presença de pequenas quantidades de sangue nas fezes, que podem ou não ser visíveis a olho nu.
Há ainda os casos em que os pacientes têm histórico familiar, em que o rastreio precisa começar 10 anos antes da idade de descoberta do tumor pelo familiar diagnosticado com câncer ou pólipos que foram removidos antes mesmo de evoluírem para a forma agressiva da doença – no caso de parentes de primeiro grau. “Em uma família na qual um pai foi diagnosticado com câncer colorretal aos 48 anos, os filhos devem iniciar o rastreamento aos 38”, explica Alonso.
Muito além da falta de rastreabilidade, a comunidade médica constantemente vem se deparando também com mitos e estigmas que afastam os pacientes do consultório, fazendo com que os diagnósticos sejam tardios, tornando impossível qualquer forma de tratamento.
Entre os principais equívocos, estão: imaginar que a prevenção do câncer de próstata também serve para prevenção de câncer colorretal; todos os pacientes com câncer colorretal usarão estomia (bolsa ligada ao corpo que coleta as fezes); e o sangramento nas evacuações sempre está ligado à hemorroida.
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