Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, um trabalhador que ganha um salário mínimo (de R$ 1.212,00) precisou se ocupar durante 111 horas e 03 minutos para conseguir pagar uma cesta básica individual no mês de junho de 2022. Ou seja, foi preciso trabalhar mais da metade do mês para garantir o básico.
O direito fundamental à alimentação adequada está ficando inacessível ao trabalhador, nos últimos meses, e a variação dos preços de bens da cesta básica e o poder de compra familiar e individual tem retirado o alimento do prato do brasileiro. A cesta básica familiar do natalense (considerando uma família média de 4 pessoas), por exemplo, ultrapassa o valor da remuneração em 54,57%, custando R$ 611,79 mensais.
A informação foi divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), por meio da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos.
“Eu compro poucas coisas no mercado, porque o meu marido ganha refeição no trabalho, então cozinho apenas nos finais de semana. Mas, sei que o negócio tá caro, a minha filha tem que comprar tudo e eu vejo o sufoco que ela passa, não é fácil. Comprar carne é uma vez por mês e olhe lá”, desabafou ao Portal N10 a Edileuza Santos.
No ano de 2022, o custo da cesta básica apresentou alta em todas as cidades, com destaque para as variações de Natal (+15,53%), Aracaju (+15,03%), Recife (+15,02%) e João Pessoa (+14,86%).
Outras cidades
Além de Natal, o custo da cesta básica de alimentos aumentou em nove das 17 capitais onde o Dieese fez a pesquisa.
Entre maio e junho, as maiores altas ocorreram no Nordeste, nas cidades de Fortaleza (4,54%), Natal (4,33%) e João Pessoa (3,36%). Oito cidades apresentaram reduções, sendo que as mais expressivas foram registradas no Sul: Porto Alegre (-1,90%), Curitiba (-1,74%) e Florianópolis (-1,51%).
Segundo a pesquisa, São Paulo foi a capital onde a cesta básica teve o maior custo (R$ 777,01), seguida por Florianópolis (R$ 760,41), Porto Alegre (R$ 754,19) e Rio de Janeiro (R$ 733,14). Nas cidades do Norte e Nordeste, onde a composição da cesta é diferente, os menores valores médios foram registrados em Aracaju (R$ 549,91), Salvador (R$ 580,82) e João Pessoa (R$ 586,73).
Produtos
De acordo com a pesquisa, entre os produtos cujo preço aumentou em todas as capitais aparece o leite integral com as maiores altas em Belo Horizonte (23,09%), Porto Alegre (14,67%), Campo Grande (12,95%) e Rio de Janeiro (11,09%). No caso da manteiga, as maiores elevações ocorreram em Campo Grande (5,69%), Belém (5,38%) e Recife (3,23%).
Em 15 das 17 capitais o preço do quilo do pão francês subiu, com os maiores percentuais em Belém (10,29%), Salvador (3,36%) e Natal (3,21%). O preço da farinha de trigo, que é coletada no Centro-Sul, teve seu preço elevado em todas as capitais, com destaque para em Brasília (6,64%) e Vitória (5,49%).
O quilo do feijão carioquinha subiu em todas as cidades onde é pesquisado e teve variação entre entre 3,67%, em Belém e 13,74%, em Recife. O preço do quilo do café em pó cresceu em 13 capitais, com as principais altas em São Paulo (4,43%), Belém (3,31%) e Recife (3,31%).
Salário ideal
A pesquisa indicou ainda que o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ser de R$ 6.527,67, ou 5,39 vezes o mínimo de R$ 1.212,00. Em maio, o valor necessário era de R$ 6.535,40, ou 5,39 vezes o piso mínimo. Em junho de 2021, o valor do mínimo necessário deveria ter sido de R$ 5.421,84, ou 4,93 vezes o mínimo vigente na época, de R$ 1.100,00.
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