Rio Grande do Norte

Índia supera dificuldades para cursar graduação no IFRN

A indígena da comunidade de Catu dos EleotériosGoianinha (RN) – Meyriane Costa de Oliveira, 38 anos, sabia que realizar o sonho de cursar uma graduação não seria fácil, mas resolveu enfrentar os desafios: de segunda à sexta-feira, à noite, atravessa um rio e pega dois ônibus para chegar ao campus Canguaretama do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Aprovada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2017, ela é estudante do curso de licenciatura em Educação no Campo.

Primeira indígena de Catu a cursar graduação, Meyriane despertou o desejo de estar dentro da sala de aula quando foi selecionada para ingressar no programa Mulheres Mil. “Em 2015, o IFRN procurou a nossa liderança e ofereceu o programa às mulheres que mais estavam precisando de ajuda na época. Eu e mais três fomos selecionadas para cursar Agricultura Familiar. E o curso superou minhas expectativas: mostrou que tínhamos que amar uns aos outros e também que era possível vencermos várias etapas na vida.”

Ao lado das outras três mulheres da comunidade selecionadas para o programa, Meyriane passou seis meses fazendo um percurso tão intenso quanto o de atualmente: três vezes por semana atravessava o Rio Catu, pegava ônibus e depois caminhava por 30 minutos sob o sol até chegar ao destino. Ela afirmou que dar conta do trajeto não é nada fácil, principalmente em época de chuva. No entanto, isso nunca foi um empecilho para realizar os sonhos e planejar o futuro.

índia no IFRN

“Estou me sentindo muito realizada. Pretendo cursar mestrado quando terminar a graduação. E eu tenho uma real preocupação com a educação no campo. Meus pais são meus exemplos. Os dois são pescadores e durante minha vida acompanhei as dificuldades deles até conseguirem a aposentadoria. Antes mesmo de ingressar no Mulheres Mil e na graduação, eu já estava confiante. Mas, há três anos, quando entrei no programa, me senti empoderada mesmo não acreditando que iria conseguir”, disse.

Desafios das mulheres indígenas – Questionada se o incentivo à educação ainda está entre os principais desafios enfrentados pelas mulheres indígenas, a estudante não hesitou. “Existe um fator que pesa muito: a autoestima. Mas eu percebo que o Mulheres Mil proporciona maior interesse às mulheres que fazem parte do programa, elas já estão de olho na graduação. Dá um despertar, atrai e dá esperança para construir um novo caminho.”

Meyriane ainda lembrou que, para assegurar os direitos das índias, é preciso garantir a demarcação territorial. “Como vamos garantir alimentação e uma vida social para a nossa comunidade se não existir esse limite? Vale lembrar que a mulher tem papel importante nesse contexto, porque passa mais tempo com os filhos, então precisamos levar a educação para eles. Para isso, é necessário termos esse espaço.”

Mulheres Mil – O projeto foi criado em 2004 pelo Colleges and Institutes Canada (CICan – sigla em inglês), à época Associação dos Colleges Comunitários Canadenses (ACCC), em parceria com 12 institutos federais brasileiros, das regiões Norte e Nordeste. A iniciativa mobilizou instituições dos dois países durante a fase piloto, entre elas o Conif, o Ministério da Educação (MEC), a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e a Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional. Em 2011, o MEC instituiu o programa nacionalmente, tendo a Rede Federal como referência no país.

Baseado nos eixos educação, cidadania e desenvolvimento sustentável, o Mulheres Mil tem como principais segmentos: possibilitar o acesso à formação; promover a elevação de escolaridade; contribuir para a redução de desigualdade sociais e econômicas de mulheres; promover a inclusão social; defender a igualdade de gênero; combater a violência contra a mulher.

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Rafael Nicácio

Co-fundador e redator do Portal N10, sou responsável pela administração e produção de conteúdo do site, consolidando mais de uma década de experiência em comunicação digital. Minha trajetória inclui passagens por assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (ASCOM) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde atuei como estagiário.Desde 2013, trabalho diretamente com gestão de sites, colaborando na construção de portais de notícias e entretenimento. Atualmente, além de minhas atividades no Portal N10, também gerencio a página Dinastia Nerd, voltada para o público geek e de cultura pop.MTB Jornalista 0002472/RNE-mail para contato: rafael@oportaln10.com.br

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