A fome desesperadora do interior do Rio Grande do Norte foi pauta nacional de uma reportagem no jornal Folha de S.Paulo. A história contada pela jornalista Renata Moura retrata a dura realidade de quem não tem o que comer no município de Senador Elói de Souza – distante 61km de Natal.
“A última vez que comi carne já tem mais de um mês. Foi quando ajudei a tirar o couro de uma vaca”, conta Adailton Oliveira, que fez uma das patas dianteiras do animal render 20 dias em seu fogão improvisado de lenha.
“Ao invés de deixar a vaca para urubu e cachorro, a gente tem que comer“, diz o agricultor. “É isso porque não tem outro jeito. Sem chuva não se planta o que comer e se acabam os animais. Também não existe mais passarinho para desfrutar, e a gente não tem condição de pedir no mercado ‘bota 1 kg de carne com osso’. A gente tem que pegar os bichinhos para fazer a mistura.”
Deojem Emanuel Gomes da Silva, 57, conta não ter nada na geladeira. O alimento disponível na cozinha é meio quilo de feijão espalhado numa caixa.
A renda “é menor que o gás”. O botijão custa R $ 110. “Tudo subiu com a pandemia”, diz com tom de lamento. Sem almoço, comeu o feijão puro.
Ele conta que não é possível recorrer nem aos pequenos répteis, animais que por décadas fazem parte da dieta dos mais pobres afligidos pela seca no Nordeste.
“A mistura, às vezes, é ovo. Às vezes, não tem. Nem calango, nem lagarto tijuaçu tem mais aqui. Eles migram atrás de água.” Há quem diga que os que ficam “são pequenos como lagartixas”.
A reportagem traz a voz de outros moradores que, assim como Adailton e Deojem, acordam todos os dias sem saber o que vão fazer para conseguir se alimentar.
Leia a reportagem na íntegra clicando aqui.
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