O presidente Jair Bolsonaro vem demonstrando preocupação com o embate entre dois de seus auxiliares pela vaga de candidato ao Senado pelo Rio Grande do Norte. A disputa entre os ministros das Comunicações, Fábio Faria, de saída do PSD, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (PL), expõe a divisão da base governista, e a dificuldade de Bolsonaro montar um palanque competitivo para recebê-lo em um reduto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste.
No último dia 30, durante o ato de filiação ao PL, Bolsonaro tornou público o desconforto com a competição entre os dois ministros. Depois de se dirigir ao senador Romário (PL-RJ), que estava na plateia, o presidente disse “ter certeza” de que Marinho “vai chegar a bom termo sobre o Rio Grande do Norte com o Fábio Faria”.
O presidente ainda acrescentou: “Não podemos ter dois Romários no Rio Grande do Norte; se fosse só um, estava resolvido, mas dois fica difícil”. Dois dias depois, na tradicional “live” semanal das quintas-feiras, Bolsonaro voltou a abordar o assunto, mencionando a “disputa enorme” no Estado entre os dois auxiliares.
Uma solução para o impasse defendida por caciques do PP é de que Faria seja indicado para a vaga de vice-presidente na chapa de Bolsonaro à reeleição. Faria contemplaria pelo menos dois requisitos impostos pelo presidente para o substituto de Hamilton Mourão no pleito de 2022: lealdade e ser do Nordeste, calcanhar de Aquiles eleitoral de Bolsonaro. Na região, ele desponta até 20 pontos atrás de Lula.
Em entrevista a Sidys TV, Bolsonaro disse que os dois “devem chegar a um acordo” para disputar vaga no Senado.
Faria, que é deputado federal licenciado para comandar a pasta, já anunciou que na janela partidária de março, trocará o PSD pelo PP. O pai dele, o ex-governador Robinson Faria, é presidente do PSD potiguar, e já declarou que o partido apoiará Bolsonaro no Estado.
As pesquisas mais recentes divulgadas pela imprensa local mostram que o ex-presidente do Senado Garibaldi Alves, do MDB, lidera a corrida para a única vaga de senador – em 2022, os eleitores vão escolher apenas um representante por Estado. Em seguida, desponta o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo, do PDT. Faria e Marinho aparecem embolados em terceiro e quarto lugar. Mas as sondagens que vêm sendo divulgadas quase semanalmente no Estado são preliminares, e o cenário não se definirá antes de março ou abril.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, disse ao Valor que o partido conta com a candidatura de Carlos Eduardo ao governo, para acolher o presidenciável da sigla, Ciro Gomes, no Estado.
Neste cenário, Carlos Eduardo voltaria ao ringue contra a governadora Fátima Bezerra, do PT, que buscará a reeleição. Em 2018, a petista derrotou o pedetista no segundo turno, alcançando 57% dos votos válidos, contra 42% do adversário.
Nos bastidores, contudo, Lula atua para tentar unir a oposição no Estado. Ele esteve no Rio Grande do Norte em agosto, quando se reuniu com a cúpula do MDB local. Na configuração idealizada por Lula, o MDB indicaria o vice na chapa de Fátima Bezerra, e cederia a vaga ao Senado para Carlos Eduardo, que se consolidaria como principal adversário dos ministros de Bolsonaro. No entanto, os aliados terão que gastar muita saliva para essa chapa única de esquerda se viabilizar.
Até lá, o embate entre Faria e Marinho ganha novos contornos. O site Valor Econômico apurou que, recentemente, Faria e Marinho acertaram que ambos tocarão seus projetos, cada um por si, nos próximos meses, sem o envolvimento de Bolsonaro. Em março, tentarão um consenso sobre quem será o candidato, a partir do cenário no momento.
Se o entendimento não for possível, a palavra final poderá ser de Bolsonaro. Mas não está descartada a hipótese de que, no limite, ambos disputem a vaga. Entretanto isso dividiria ainda mais os votos pró-governo num Estado onde a oposição é hegemônica.
Enquanto o impasse persiste, ambos tentam agrupar em torno de si o máximo de lideranças locais. Um dos principais aliados de Marinho é o prefeito de Natal, Álvaro Dias, que se reelegeu no primeiro turno em 2020. Ele ingressou no PSDB pelas mãos do ministro, que já integrou os quadros da legenda. Agora, Dias é cortejado pela direção do PL para seguir os passos do aliado que ingressou na legenda junto com Bolsonaro.
Os aliados locais de Marinho buscam um palanque de fôlego para abrigar o presidente e o ministro. Recentemente, o prefeito de São Tomé (RN) e presidente da federação de municípios potiguares, Babá Pereira (Republicanos), lançou a pré-candidatura do deputado federal Benes Leocádio (Republicanos) ao governo estadual.
Leocádio foi o deputado federal mais votado no Estado em 2018. O Valor apurou, contudo, que o parlamentar se reuniu na semana passada com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, e o líder da bancada, deputado Hugo Motta (PB), e reafirmou a intenção de se reeleger deputado federal.
No grupo de Marinho, também surgiu como cotado para o governo o nome do presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira (PSDB). Segundo seus assessores, entretanto, o tucano tem agradecido a lembrança do nome para concorrer ao governo, mas tem reafirmado a disposição de buscar novo mandato de deputado estadual.
Em outra frente, Faria conquistou o apoio de outra importante liderança local, o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (Solidariedade). Mossoró é a segunda cidade mais relevante do Estado, depois de Natal, e agrega para o ministro uma parcela dos votos do interior.
A ironia é que Bezerra é adversário da ex-prefeita Rosalba Ciarlini, liderança local do PP. Faria já avisou à imprensa local que, uma vez no PP, não irá se alinhar a Rosalba.
Faria tem dialogado com Carlos Eduardo, que se não recuar da postulação ao governo, pode lhe franquear a vaga de candidato ao Senado na chapa pedetista.
Faria e Marinho carregam igualmente revezes eleitorais. Depois de assumir o ônus de relatar a reforma trabalhista do governo Michel Temer, Marinho não se reelegeu deputado federal em 2018.
Faria, a seu turno, teve um recente revés eleitoral em família: ele é filho do ex-governador Robinson Faria, que deixou a cadeira com alta rejeição. Além de não se reeleger em 2018, acabou em terceiro lugar em pleno exercício do cargo.
Mas ambos buscam se reposicionar na corrida eleitoral com os ativos da máquina federal. Marinho percorre o Nordeste com Bolsonaro, entregando casas populares e obras de infraestrutura, como braços da transposição das águas do Rio São Francisco. Já Faria é responsável pela implantação da tecnologia 5G no país, e pela ampliação da internet de banda larga nas escolas públicas.
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