Um levantamento recente do Ipec revelou que as escolas são os principais locais onde ocorrem casos de racismo no Brasil. De acordo com a pesquisa, 38% das vítimas de racismo no país relataram ter sofrido a discriminação em ambientes escolares, como escolas, faculdades e universidades. Em segundo lugar, aparecem o ambiente de trabalho (29%), seguido por espaços públicos (28%), estabelecimentos comerciais (18%) e o ambiente familiar (11%).
Os dados fazem parte do estudo “Percepções sobre o Racismo”, conduzido pelo Projeto SETA e pelo Instituto de Referência Negra Peregum. As instituições destacam a necessidade urgente de uma educação antirracista nas escolas, que devem não apenas reconhecer, mas combater ativamente as desigualdades raciais.
A Casa Escola é um exemplo de instituição que tem implementado o letramento racial, indo além das diretrizes legais obrigatórias. “Para além das legislações vigentes, temos empenhado um esforço ativo e sistemático no sentido de repensar posturas e trazer para dentro do nosso currículo práticas que promovam a consciência racial”, afirmou a diretora Priscila Griner ao N10 Notícias.
Griner faz referência às Leis nº 10.639/03 e 11.645/08, que exigem o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas públicas e privadas de ensino fundamental e médio. Apesar dessas regulamentações, um levantamento da entidade Todos Pela Educação apontou que, em 2021, somente metade das escolas brasileiras possuíam projetos sobre as relações étnico-raciais, mesmo após 20 anos da promulgação da primeira lei.
“A nossa missão é preparar os nossos alunos e educadores para que reconheçam e desafiem o racismo estrutural em suas diversas expressões. Isso inclui, entre outras iniciativas, a capacitação contínua da equipe pedagógica e a revisão da nossa literatura e acervo para garantir que contemplem a diversidade étnico-racial do nosso povo”, destacou Priscila Griner.
Ao N10 Notícias, o Mestre Fumaça, do Quilombo Capoeiras, confirma que a Casa Escola foi pioneira em Natal ao incluir a Capoeira no currículo escolar para crianças de 4 a 6 anos, com aulas ministradas por um representante quilombola. “O meu trabalho é mostrar para as crianças que não se trata apenas de uma luta ou uma brincadeira. E é nessa interação que eu consigo passar um pouco da minha cultura”.
Para a professora de História, Sabrina Pereira, desconstruir estereótipos e reconhecer a diversidade são ações essenciais para uma educação que promova a equidade e o respeito à dignidade de todos. “Desta forma, conseguimos reeducar, identificar e reconhecer atitudes racistas que permeiam a nossa sociedade,” afirmou. Ela enfatiza que o letramento racial não deve ser uma iniciativa isolada, mas uma prática contínua.
“Precisamos incluir, em nossa rotina, referências positivas das culturas afrodescendentes e indígenas, indo além das narrativas de sofrimento e opressão. Além disso, é fundamental reconhecer a ‘branquitude’ e os privilégios associados a ela como parte da educação antirracista. Uma prática que não deve se limitar ao ambiente escolar, mas preparar os alunos para serem agentes antirracistas em suas vidas cotidianas”, concluiu a professora.
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