“A decisão já está tomada: teremos, sim, neste prédio belíssimo, vizinho ao Teatro Alberto Maranhão e próximo à Casa de Cascudo, o Museu da Música Potiguar Brasileira. O povo do Rio Grande do Norte, as gerações presentes e futuras, merecem esse importante equipamento de preservação de nossa memória musical“. A garantia foi dada pela governadora Fátima ao visitar, na companhia do presidente da Academia Norte-Riograndense de Letras, Diógenes da Cunha Lima, o local onde funcionou a Junta Comercial do Estado por mais de quatro décadas, na Ribeira.
Inaugurado em 31 de março de 1930 para abrigar a Recebedoria de Renda, tombado em 1992, o prédio faz parte de um conjunto arquitetônico de inestimável valor histórico, ao lado do Teatro, do Museu de Cultura Popular Prefeito Djalma Maranhão e da antiga Faculdade de Direito, na Praça Augusto Severo.
“O museu se soma a outras iniciativas em curso, como o Complexo Cultural Museu da Rampa; o Teatro Alberto Maranhão, que será entregue neste segundo semestre; a Fortaleza dos Reis Magos, a Escola de Dança, a Pinacoteca e a Biblioteca Câmara Cascudo“, ressaltou Fátima Bezerra, que pediu à diretoria da Fundação José Augusto (FJA) para levar o projeto adiante.
“O Rio Grande do Norte tem algumas características curiosas e diferentes do resto do País. É um dos estados musicais do Brasil. Mas nenhum estado tem um Aldo Parisot [1918-2018, violoncelista natalense], professor por mais de 60 anos da Escola de Música de Yale, homenageado pela ONU; temos o maestro Tonheca Dantas [1871-1940], que deixou 240 composições, mas até hoje só conhecemos 60; tem Oriano de Almeida [1921-2004, pianista], um dos maiores intérpretes de Chopin. Quantos compositores populares fantásticos precisam estar aqui?“, enfatizou o professor Diógenes da Cunha Lima, ao elogiar a construção do museu.
Ele lembrou que Alberto Maranhão de Albuquerque foi o governador que mais valorizou a cultura, fazendo o Rio Grande do Norte ser conhecido e respeitado em todo o Brasil. No entanto, observou, houve um “grave” período de abandono desse legado. “Precisamos valorizar nossas conquistas. Isso aqui também é um espaço para o turista, para quem quiser vir, ver e ouvir a beleza da música, que é a comunicação universal. Então, não vejo outra chance para o RN, a não ser através dessa atuação forte que a senhora, governadora, está fazendo, sobretudo na cultura, que reflete também no turismo.”
A pesquisadora Leide Câmara de Oliveira, autora do Dicionário de contabilidade do Rio Grande do Norte e que tem um acervo com 6 mil músicas cadastradas de autores potiguares cantadas por intérpretes potiguares ou não, e de compositores de qualquer lugar interpretadas por cantores potiguares, defendeu a iniciativa. “Vai ser um museu singular porque o RN tem a memória de mais de um século preservada. O museu terá grande importância porque poderemos mostrar às gerações o que foi e o que é a nossa história musical, os instrumentos, as formas de gravação, as partituras, a sociologia da época retratada por cada música.”
“Essa será mais uma ação de valorização da cultura, de preservação de nossa memória e de revitalização da Ribeira“, diz o presidente da Fundação José Augusto, o poeta Crispiano Neto, citado nomes de cantores potiguares contemporâneos que tiveram projeção nacional, como a são-gonçalense Ademilde Fonseca, Rainha do Chorinho; a assuense Núbia Lafayette; o macauense Hianto de Almeida, precursor da Bossa Nova; o timbaubense Elino Julião, entre outros grandes da música. “A música representa uma das nossas principais potências culturais“, reforçou Fábio Lima, diretor da FJA.
Grandes da Música Potiguar com projeção nacional
- Janduí Filizola – Compositor
- Ademilde Fonseca, de São Gonçalo do Amarante, Rainha do Chorinho
- Trio Irakitan*
- Núbia Lafayete (Idenilde Araújo Alves da Costa) – assuense (1937-2007)
- Hianto de Almeida, macauense, precursor da Bossa Nova
- Tonheca Dantas – Maestro
- Terezinha de Jesus – vendeu 5 milhões de discos
- Elino Julião – Forrozeiro, nascido em Timbaúba dos Batistas
- Leno [Gileno Osório Wanderley de Azevedo] da dupla Leno e Lílian
- Antônio Madureira, macauense, maestro, violonista e compositor, integrante do Quinteto Armorial
- Carlos André – Produtor de Luiz Gonzaga
(*) Segundo a Wikipedia, o primeiro nome escolhido por Câmara Cascudo foi Trio Muirakitan, que significa pedra verde em tupi-guarani. Como na época já havia um trio com o mesmo nome, Cascudo resolveu criar um neologismo, rebatizando-o para Trio Irakitan.
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