(ANSA) – Por Darío Pignotti – O presidente do Brasil, Michel Temer, liderou nesta quarta-feira (16), em Brasília, o primeiro encontro diplomático sul-americano de alto nível após a vitória de Donald Trump, em um governo que impactará no cenário regional.
A agenda do encontro foi sobre como coordenar o combate ao narcotráfico e o comércio ilegal de armas nos mais de 16 mil quilômetros de fronteiras entre o Brasil e seus vizinhos. Na pauta oficial, não foi incluído um debate sobre o resultado das eleições norte-americanas, ocorridas no dia 8 de novembro.
No entanto, segundo informações dos corredores do Palácio do Itamaraty, o tema Trump foi seguramente debatido de maneira informal por alguns dos representantes diplomáticos que participaram da reunião. O próprio Temer declarou esta semana que espera avanços na relação com o futuro governo norte-americano. E afirmou que se Trump poderá ter uma política prejudicial para o México, isso não se aplica ao Brasil. Mas, é certo que o presidente brasileiro não fez menção ao magnata dos EUA em seu discurso às autoridades sul-americanas.
Participaram do evento os chanceleres da Bolívia e do Paraguai, David Choquehuanca e Eladio Loizaga, respectivamente, o ministro da Defesa da Argentina, Julio César Martínes, o vice-chanceler uruguaio, José Luis Cancela e seu homólogo chileno Edgardo Riveros Marín.
Vale dizer que participaram todos os países do Mercosul, menos a Venezuela, com quem o governo brasileiro não mantém mais relações desde 31 de agosto. Ao mesmo tempo, o Brasil convidou a Bolívia, com quem negocia a prolongação de seu acordo energético pelo qual importa gás boliviano, e o Chile, um de seus aliados para tentar ingressar na Aliança do Pacífico.
A ideia do encontro lançada por Temer e pelo ministro das Relações Exteriores, José Serra, é avançar o processo de integração, tendo como uma das bases a luta contra o narcotráfico. Ambos estiveram acompanhados pelos ministros da Defesa, Raúl Jungmann, e pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.
O narcotráfico “é um dos maiores dramas de nosso tempo, que adquire níves intoleráveis de violência, invade nossas cidades e os países que estão reunidos aqui”, destacou o presidente anfitrião. Ele propôs um pacto regional “estratégico” para atuar coordenadamente contra o tráfico tanto de drogas e como de armas e pessoas.
O chefe de Estado ainda destacou como “grave” o desenvolvimento alcançado pelo crime organizado na região, cujo combate será eficaz apenas se for realizada uma operação “conjunta”. Além do enfoque na segurança, Temer disse que aspira ao fechamento de um “pacto com todos os Estados da América Latina, formando uma espécie de grande Federação Latino-americana”.
Além disso, ele destacou que as fronteiras, além de serem um terreno de combate ao crime, também têm “um potencial para o desenvolvimento, que deve materializar-se dia a dia como um espaço de integração econômica e social”.
Declaração de Brasília
Após o fim do encontro, os representantes emitiram a Declaração de Brasília para “acordar os objetivos prioritários e diretrizes para o desenvolvimento de ações coordenadas”.
Dividido em quatro partes, o documento ressalta a importância de uma coordenação regional para combater os crimes praticados nas regiões de fronteira.
“Manifestamos nossa preocupação com o aumento da criminalidade organizada transnacional em nossa região, bem como com os potenciais impactos decorrentes de ameaças globais como o terrorismo internacional e os crimes cibernéticos e, nesse sentido, reconhecemos que, no contexto de segurança atual, os mecanismos de cooperação são ferramentas centrais para reforçar a ação conjunta dos Estados”, diz o texto.
Os representantes sul-americanos ainda ressaltam que “os controles nas passagens de fronteira habilitadas e a vigilância terrestre, aérea, marítima, lacustre e fluvial ao longo de nossas fronteiras devem ser priorizados, aperfeiçoados e modernizados de modo permanente”.
Entre os principais objetivos apresentados pela Declaração estão o fortalecimento da cooperação entre os países (item dividido em 12 tópicos de ação que vão desde o planejamento até o incentivo tecnológico para a região), a consolidação da cooperação regional contra os crimes “transnacionais” e um programa para “conhecer a fronteira”, estimulando projetos e fomentando a “celebração de convênios entre os institutos de pesquisa científica e acadêmica”.
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