Moradores da cidade e região metropolitana do Rio de Janeiro terão, a partir desta terça-feira (5), uma ferramenta digital colaborativa para dar visibilidade à rotina de tiroteios e violência armada com a qual convivem.
Iniciativa da Anistia Internacional, o aplicativo “Fogo Cruzado” está disponível para download gratuito para as plataformas Android e IOS. Ao preencher um formulário simples e seguro, qualquer cidadão pode registrar a ocorrência de um tiroteio em seu bairro. A informação é transformada pelo app em uma notificação em um mapa da região metropolitana do Rio disponível no site www.fogocruzado.org.br, ilustrando a prevalência e a distribuição geográfica e social da violência armada na cidade olímpica.
A ideia para o aplicativo surgiu de pesquisas autônomas que contabilizaram tiroteios no Rio de Janeiro no ano de 2015 através de informações disponíveis na imprensa, boletins policiais e redes sociais. Mesmo com a cobertura parcial das ocorrências de uso de arma de fogo, já que nem todos os tiroteios são divulgados, um levantamento do jornal Voz das Comunidades apontou que no Complexo do Alemão houve 100 dias seguidos de tiroteio em 2015. Isto confirma a necessidade de abrir um canal de visibilidade para a alta incidência de uso de arma de fogo em determinadas áreas da cidade.
“A região metropolitana do Rio de Janeiro convive com altos índices de violência armada, registrando de acordo com o Mapa da Violência, cerca de 3500 assassinatos por armas de fogo em 2012, dentre os quais, 2000 foram jovens entre 15 e 29 anos. Algumas localidades, como a Zona Norte e a Baixada Fluminense, apresentam forte incidência de homicídios. Essa violência armada, além de mortos e feridos, gera fortes impactos na rotina dos cidadãos como a suspensão de aulas em escolas, fechamento de postos de saúde e bloqueio de vias públicas, geralmente pouco retratados nos debates sobre o problema”, afirma Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil.
Os dados acumulados pelo “Fogo Cruzado” serão divulgados em mapas e análises abertos a consultas de autoridades, pesquisadores, imprensa e lideranças locais. A ferramenta está sendo prioritariamente promovida junto a organizações, coletivos e defensores de direitos humanos que atuam diretamente em áreas de favelas e periferias. O aplicativo vai funcionar em modo piloto/de testes até dezembro de 2016 nas comunidades Jacarezinho, Manguinhos, Complexo da Maré, Complexo do Alemão, Acari, Cidade de Deus e Morro Agudo (Nova Iguaçu), com a perspectiva de ser aprimorado a partir das informações acumuladas nos primeiros seis meses de funcionamento.
“Vale ressaltar que o “Fogo Cruzado” não pretende lidar com denúncias de casos específicos como homicídios decorrentes de intervenção policial, por exemplo. Com base nos dados gerados pelo aplicativo, vamos solicitar informações complementares às autoridades para melhor compreender os impactos dos tiroteios em aspectos como o fechamento de escolas e consequente suspensão de aulas, número de vítimas fatais (civis e agentes de segurança pública), feridos, fechamento de vias de trânsito, entre outros. As análises e respostas serão divulgadas periodicamente no site do aplicativo, dando uma ideia do preço da violência cotidiana em nossa cidade”, ressalta Atila Roque.
“O aplicativo vai nos dar elementos para um tipo de abordagem no debate sobre segurança pública que até então era desconsiderado: quantos são, onde ocorrem e qual o impacto dos tiroteios na vida das pessoas que vivem na cidade do Rio de Janeiro”, explica Cecília Olliveira, pesquisadora e gestora de dados do Fogo Cruzado. “É uma ferramenta para que a população mais afetada pela lógica da guerra mostre, de forma segura, todas as vezes em que é colocada no meio do ‘Fogo Cruzado’. Com as informações adicionais solicitadas poderemos ter uma noção mais especifica do custo social dessa violência para as pessoas e para a cidade”, conclui.
A pesquisadora esclarece que já existem ferramentas com a finalidade de fazer denúncias, como o aplicativo NósPorNós e o site Defezap, mas reitera que o objetivo desta nova iniciativa é ter uma ‘fotografia’, um mapa colaborativo da violência armada na cidade que sirva de fonte para para uma ampla discussão sobre violência armada e suas consequências no dia a dia da cidade.
O lançamento do aplicativo “Fogo Cruzado” faz parte da campanha “A violência não faz parte desse jogo!”, lançada pela Anistia Internacional em junho e que exige medidas preventivas para evitar violações de direitos humanos nas operações de segurança pública no Rio de Janeiro.
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