Um novo estudo liderado pela NASA revela que a frequência das chuvas é tão importante quanto a quantidade total para o crescimento da vegetação mundial. A pesquisa, publicada na revista Nature, analisou dados de mais de 20 anos (2000-2023) e mostrou que, mesmo em anos com índices de precipitação semelhantes, as plantas se saíram de forma diferente dependendo da distribuição da água.
Em regiões áridas, como o sudoeste dos EUA, plantas prosperaram mais em anos com chuvas menos frequentes, porém mais intensas. Em contrapartida, em ecossistemas úmidos, como a floresta amazônica, a vegetação sofreu mais com esse padrão, possivelmente devido a períodos de seca mais prolongados entre as chuvas.
Andrew Feldman, hidrologista e cientista de ecossistemas do Goddard Space Flight Center da NASA, em Greenbelt, Maryland, destaca que, embora se saiba que quase metade da vegetação mundial é influenciada pela quantidade anual de chuva, o impacto da variabilidade diária era menos compreendido. Ele usa a analogia de uma planta doméstica: “Se você der um regador cheio de água no domingo, ou um terço de um regador na segunda, quarta e sexta?” A diferença, aplicada em escala global, pode impactar diretamente as colheitas e a absorção de dióxido de carbono pelas plantas.
O estudo, que contou com a participação de pesquisadores do Departamento de Agricultura dos EUA e diversas universidades, analisou duas décadas de observações de campo e dados de satélite, cobrindo milhões de quilômetros quadrados em diversas regiões, da Sibéria ao sul da Patagônia. Aproximadamente 42% da superfície terrestre vegetada mostrou-se sensível à variabilidade da chuva diária. Mais da metade dessas áreas apresentou melhor crescimento em anos com chuvas menos frequentes, mas mais intensas, incluindo terras agrícolas, pastagens e desertos.
Por outro lado, florestas de folhas largas (como carvalhos, bordos e faias) e florestas tropicais em latitudes baixas e médias foram negativamente afetadas por esse padrão, especialmente nas florestas da região Indo-Pacífica, incluindo Filipinas e Indonésia. De forma estatística, a variabilidade da chuva diária foi quase tão importante quanto o total anual de chuva para o crescimento global das plantas.
A pesquisa utilizou dados de diversas missões e conjuntos de dados da NASA, incluindo o algoritmo Integrated Multi-satellitE Retrievals for GPM (IMERG), que fornece informações sobre taxas de chuva e neve para a maior parte do planeta a cada 30 minutos, usando uma rede internacional de satélites. Para avaliar a resposta diária das plantas, os cientistas analisaram o índice de vegetação por meio de imagens de satélite, avaliando o chamado ‘índice de diferença normalizada da vegetação’ (NDVI), e monitoraram a fluorescência solar induzida, uma fraca emissão de luz pelas plantas durante a fotossíntese detectável por satélites como o Orbiting Carbon Observatory-2 (OCO-2).
Feldman afirma que as descobertas destacam o papel crucial das plantas na movimentação do carbono na Terra – o chamado ciclo do carbono. A vegetação atua como um enorme ‘sumidouro’ de carbono, absorvendo o excesso de dióxido de carbono da atmosfera. “Uma compreensão mais detalhada de como as plantas prosperam ou declinam dia a dia, tempestade a tempestade, pode nos ajudar a entender melhor seu papel nesse ciclo crítico”, concluiu Feldman.
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