Um novo estudo realizado no México revelou um dado surpreendente sobre as mortes relacionadas ao calor: o grupo etário mais afetado é o de 18 a 34 anos. Entre 1998 e 2019, cerca de 3.300 mortes por calor foram registradas anualmente, com quase um terço delas ocorrendo nesse grupo etário. Este resultado contrasta com a literatura científica anterior, que apontava para maior vulnerabilidade de idosos a eventos climáticos extremos, tanto calor quanto frio.
Para o economista ambiental e trabalhista Jeffrey Shrader, do Centro de Economia e Política Ambiental da Escola de Clima da Universidade Columbia, a descoberta é inesperada. “É uma surpresa”, afirma Shrader. “Estas são fisiologicamente as pessoas mais robustas da população. Eu adoraria saber por que isso acontece.”
A pesquisa, conduzida por especialistas de diversas instituições americanas, incluindo Stanford University, Boston University e Montana State University, utilizou dados de alta qualidade sobre mortes relacionadas ao calor no México, país com registros de exposição extrema a calor e umidade. A escolha do México se deve à disponibilidade de dados robustos.
Os pesquisadores apontam que fatores comportamentais, sociais e econômicos podem explicar a alta mortalidade entre jovens adultos. A maior participação em atividades ao ar livre e a maior probabilidade de trabalharem em ocupações externas com pouca flexibilidade em eventos climáticos extremos são alguns exemplos. Estudos anteriores sobre registros de óbitos no México já haviam demonstrado que as mortes relacionadas a condições climáticas extremas são mais comuns em homens em idade ativa. O estudo publicado na Science Advances destaca que, ao considerar os anos de vida perdidos devido a mortes prematuras relacionadas ao calor, o impacto é desproporcionalmente maior em grupos mais jovens. Indivíduos com menos de 35 anos representam 87% dos anos de vida perdidos por exposição ao calor.
O estudo também analisa projeções para o futuro. Embora se espere uma redução de aproximadamente um terço nas mortes relacionadas ao frio em pessoas com idade média ou superior a 50 anos até 2100, devido à diminuição da frequência de dias frios, as projeções para mortes relacionadas ao calor são preocupantes. Em um cenário de altas emissões, as mortes por calor em pessoas com menos de 35 anos poderiam aumentar 32% no México até 2100. Crianças menores de cinco anos serão as mais afetadas, devido ao sistema termorregulador menos desenvolvido. Dados recentes indicam que, para uma criança menor de cinco anos no México, um dia com temperatura de bulbo úmido média de 27 °C aumenta em 45% o risco de mortalidade em comparação com uma temperatura de bulbo úmido média de 13 °C. A pesquisa ressalta que mesmo adultos podem enfrentar riscos físicos graves com calor e umidade extremos em exposições prolongadas.
Os pesquisadores estão agora investigando se jovens em outras partes do mundo são igualmente impactados por ondas de calor, buscando auxiliar formuladores de políticas na proteção dos mais vulneráveis.
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