Um estudo recente da Fundação do Câncer, divulgado no Dia Nacional de Combate ao Câncer, revelou dados alarmantes sobre a letalidade de diversos tipos de câncer relacionados ao tabagismo no Brasil. A pesquisa, intitulada “Impactos do tabagismo além do câncer de pulmão”, analisou sete tipos de câncer com forte ligação ao hábito de fumar, mostrando que mais da metade dos pacientes diagnosticados com essas doenças não sobrevivem.
De acordo com o estudo, o câncer de esôfago apresenta a letalidade mais alta, ultrapassando 80% em grande parte do país, com índice que chega a 98% entre homens no Sudeste. Outros cânceres com alta letalidade incluem:
- Câncer de cavidade oral: 43% de letalidade em homens e 28% em mulheres. A região Nordeste apresenta os maiores índices em homens (52%).
- Câncer de estômago: Letalidade de 71%, com o Norte apresentando o índice mais alto (83%).
- Câncer de cólon e reto: Letalidade estimada em 48% para homens e 45% para mulheres.
- Câncer de laringe: Letalidade de 65% em homens. Em mulheres, a letalidade varia de 48% a 88% em todo o território nacional, apesar da incidência ser cinco vezes maior em homens.
- Câncer do colo do útero: Letalidade de 42%, com destaque para a contribuição do tabagismo nas taxas de incidência e mortalidade na região Norte. Vale lembrar que esta doença possui prevenção primária por meio da vacinação contra o HPV e programas de detecção precoce.
- Câncer de bexiga: Letalidade estimada em 44% para homens e 43% para mulheres.
O coordenador do estudo, Alfredo Scaff, consultor médico, enfatizou em entrevista à Agência Brasil que o objetivo principal é conscientizar a população sobre os perigos do tabagismo, não apenas em relação ao câncer de pulmão, mas também a outros tipos de câncer com alta letalidade. “Fomos atrás de saber quais são esses cânceres e qual é essa importância. Estudamos sete tipos de câncer que apresentaram fortíssima correlação com o tabagismo e com alta mortalidade e letalidade“, explicou Scaff, diferenciando mortalidade (número de óbitos) de letalidade (força da doença em causar mortes).
Os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam que o câncer é a segunda maior causa de morte no Brasil, com 239 mil óbitos em 2022 e uma estimativa de 704 mil novos casos para 2024. Os cânceres relacionados ao tabagismo analisados no estudo foram responsáveis por 26,5% das mortes por câncer em 2022 e representam 17,2% dos novos diagnósticos estimados para este ano.
Para calcular a letalidade, os pesquisadores utilizaram as taxas ajustadas de incidência e mortalidade dos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Scaff alerta sobre a forte relação entre o tabagismo e esses cânceres, afirmando que “todos esses cânceres têm uma forte atribuição ao tabagismo. A gente não pode dizer que o tabagismo é a única causa de nenhum deles, mas é uma causa muito, muito forte para o desenvolvimento deles. De modo geral, todos os cânceres que acometem células epiteliais, que recobrem superfícies, são afetadas pelos compostos do tabaco. A nicotina e milhares de outras substâncias agridem o desenvolvimento dessas células“. Ele explica ainda a relação entre o tabagismo e o câncer do colo do útero: “As substâncias do cigarro agem sobre o epitélio – e a vagina é um órgão com epitélio que se renova com muita frequência. Essas substâncias podem levar à uma diminuição da imunidade local, ocasionando abertura maior para infecções como pelo HPV, que se manifesta de forma muito mais intensa nesses casos, levando ao desenvolvimento do câncer de colo do útero“.
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