O ex-ministro da Defesa de Israel, Moshe Yaalon, lançou graves acusações contra o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, alegando que ações em Gaza configuram limpeza étnica. Em entrevista à Democrat TV, Yaalon, que serviu como ministro de 2013 a 2016 e também foi chefe do Estado-Maior de Israel, afirmou:
“O caminho que estamos sendo arrastados atualmente é conquistar, anexar e realizar uma limpeza étnica. Olhe para o norte da Faixa, transfere-se famílias e estabelece-se um assentamento judaico. Não existe mais Beit Lahiya, não existe Beit Hanoun. Eles estão atualmente trabalhando em Jabalia e estão basicamente limpando a área dos árabes”.
A declaração gerou forte repercussão. O partido Likud, do governo, rebateu as alegações, classificando-as como “mentiras caluniosas”, segundo a Reuters. As Forças de Defesa de Israel (FDI) também emitiram um comunicado, divulgado pela Kan News, afirmando que “atuam de acordo com o direito internacional e evacuam uma população de acordo com a necessidade operacional e temporariamente, para sua proteção. As FDI rejeitam as graves alegações de limpeza étnica na Faixa de Gaza, que prejudicam as FDI e os seus soldados”.
Yaalon, em resposta às críticas nas redes sociais, lembrou declarações anteriores de membros do governo. Ele citou o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que defendeu reduzir pela metade a população de Gaza e se mostrou indiferente à possibilidade de 2 milhões de palestinos passarem fome sem ajuda humanitária. Yaalon também mencionou o ministro Itamar Ben Gvir, chefe da Segurança Nacional de Israel, e suas posições a favor da imigração de palestinos para fora de Gaza.
Em sua publicação nas redes sociais, Yaalon alertou: “Estes levarão os comandantes e soldados das FDI ao Tribunal Penal Internacional em Haia. Os comandantes e soldados são informados de que estão a desviar temporariamente a população para necessidades operacionais, enquanto os políticos falam de outros objetivos. É claro que quando os comandantes e soldados forem expostos aos processos judiciais em Haia, os políticos fugirão à responsabilidade”.
Michel Gherman, professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em sociedade israelense, analisa que a declaração de Yaalon, um político de centro-direita e general respeitado, possui grande significado, tanto interna quanto externamente. Ele destaca que Yaalon já havia se afastado do governo Netanyahu por discordâncias sobre a política de assentamentos judaicos na Cisjordânia, que, segundo ele, inviabiliza um acordo de paz com os palestinos.
Gherman aponta que a acusação de limpeza étnica é o elemento mais novo e impactante do discurso de Yaalon, com potencial para influenciar a política interna, com “uma possível radicalização da centro-direita no projeto de derrubada de Netanyahu e de radicalização nas manifestações contra o governo”, e externamente, “pelo uso jurídico e político que isso vai ter no processo internacional”. Ele conclui: “Se uma pessoa que já foi ministro da Defesa, já foi deputado, é um general importante, assume que o que está havendo em Israel é genocídio na Faixa de Gaza, me parece que é uma fonte que pode e deve ser utilizada”.
A denúncia de limpeza étnica por Yaalon se soma às acusações feitas por palestinos e organizações internacionais. A UNRWA, Agência da ONU para Refugiados Palestinos, e a ONG Oxfam relatam a suspensão da ajuda humanitária no norte de Gaza e apontam para as “etapas finais de uma limpeza étnica” na região. Israel enfrenta ainda uma acusação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, e o Tribunal Penal Internacional (TPI), também em Haia, emitiu mandados de prisão contra Benjamin Netanyahu e o então ministro da Defesa, Yoav Gallant, por supostos crimes de guerra e contra a humanidade em Gaza.
O governo israelense nega as acusações, alegando que suas ações são justificadas pela necessidade de combater o Hamas e prevenir novos ataques como o ocorrido em 7 de outubro de 2023, quando militantes do grupo invadiram Israel, causando a morte de cerca de 1.200 pessoas e o sequestro de 200 reféns. O Hamas afirma que o ataque foi uma resposta à ocupação israelense dos territórios palestinos e ao cerco de mais de 17 anos imposto a Gaza.
Quer receber as principais notícias do Portal N10 no seu WhatsApp? Clique aqui e entre no nosso canal oficial.